Como foi dito em nossas primeiras impressões, Ms. Marvel é aquele tipo de série feito para quem é adolescente ou guarda com carinho as memórias dessa época mesmo já estando na vida adulta. Entre os corredores da escola e experiências de autodescoberta, a atração trouxe em 6 episódios toda a emoção ou nostalgia dessa fase, sem perder de vista as referências e conexões que se espera de uma produção da Marvel Studios.
Disponível no Disney+, o programa desenvolvido por Bisha K. Ali (O Bebê) apresenta ao MCU a garota de família paquistanesa chamada Kamala Khan (Iman Vellani, estreante) que, ao ganhar um estranho bracelete de sua avó, se vê capaz de manifestar e manipular formas de energia. Como apenas isso não fosse complicado o bastante, a protagonista, que nasceu em Nova Jersey (EUA), lida com as regras da religião de seus pais e sua postura superprotetora.
Mas, para equilibrar os dois aspectos de sua vida, a personagem conta com Bruno Carelli (Matt Lintz, de The Walking Dead), especialista em tecnologia, apaixonado por cultura nerd e para quem Kamala logo conta sobre sua identidade secreta; e Nakia (Yasmeen Fletcher, de Andi Mack); a fiel amiga com quem a jovem compartilha as dificuldades para seguir todas as restrições impostas pela família e ter uma adolescência igual a de outras meninas.
Direto dos gibis
Embora altere a origem dos poderes da personagem e maneira como ela os usa, o seriado mantém o tom dos primeiros quadrinhos protagonizados por Kamala Khan, escritos por Sana Amanat e G. Willow Wilson e ilustrados por Adrian Alphona. Da admiração pela Capitã Marvel e pelos Vingadores às principais figuras ao seu redor, o título do streaming da Disney mantém quase tudo, com exceção da figura vilanesca. Que se pode considerar tema polêmico.
Se nas páginas dos gibis o Inventor gera um desafio interessante para Kamala no início de sua jornada como Ms. Marvel, aqui a heroína se depara com os ClanDestinos, que na prática se declaram como Djinn – como os gênios da lâmpada na mitologia, mas demoníacos –, naturais da chamada “dimensão noor”. Possivelmente, tudo isso deve ser peça dos planos da Marvel para a Saga do Multiverso que acontece durante as Fases 4, 5 e 6 do MCU.
Mesmo trabalhando por um quebra-cabeças maior, a série recria com fidelidade muito do clima, sentimentos e circunstâncias pelas quais Kamala passa em suas HQs. Algumas cenas são quase que adaptações literais dos quadrinhos.
Riqueza cultural
Tendo o cuidado de explicar momentos históricos como a “A Partição” e exibir nos créditos nomes de profissionais que reflitam as raízes do programa, o título mostra muito dos costumes de famílias muçulmanas, bem como aproveita o engajamento dos fãs para apresentar a jovens e adultos as músicas, vestimentas e cenários do Paquistão. É como viajar sem sair de casa.
Outro ponto que toca bastante é como Kamala se sente deslocada diante dos colegas de escola, encontrando proximidade apenas com Kamran (Rish Shah, de Para Todos os Garotos: Agora e Para Sempre), com quem divide os mesmos gostos sobre filmes e não precisa traduzir o idioma usado em sua casa. A questão cultural também é abordada pela segunda vilania de Ms. Marvel, representada pela organização Controle de Danos, que direciona suas suspeitas para a comunidade islâmica, em uma investigação para lá de tendenciosa que acaba caçando a protagonista.
Provavelmente seja esta a sensação de perseguição e desconfiança com a qual vivem muçulmanos em solo norte-americano.