Plano 75: carta à sociedade sobre o envelhecimento

Sally Borges
Plano 75: carta à sociedade sobre o envelhecimento
Reprodução/Sato Company

Há décadas, o Japão é considerado o país com a população mais idosa do mundo. Segundo os dados publicados pelo governo japonês, uma a cada 10 pessoas tem 80 anos ou mais; o que fez o território bater recorde de população anciã em 2023. Chie Hayakawa, roteirista e diretora de Plano 75, não poderia ter pensado em uma narrativa melhor para se destacar no cinema asiático e fazer do longa o representante nipônico no Oscar do ano passado.  

Uma distopia quase real

Na produção, distribuída pela Sato Company, três histórias se entrelaçam: a da jovem mãe e imigrante filipina Maria (Stefanie Arianne), a da solitária senhora e recém demitida Michi (Chieko Baisho) e a do rapaz e servidor público Hiromu (Hayato Isomura). Todos eles estão diante do ‘Plano 75’, uma ação do governo que garante aos cidadãos acima de 75 anos o direito de escolher morrer e o apoio necessário para tal.

A proposta é que o idoso que opte por entrar para o plano receba R$ 10 mil para ser gasto da forma que quisesse, seja com uma viagem dos sonhos, um jantar de luxo ou até com os preparativos para o próprio velório. O governo, então, acabaria com a vida do idoso, esperando que o ato seja o primeiro passo para resolver o problema do envelhecimento populacional do Japão.

Problema atual

Não há como se deparar com essa narrativa e deixar de pensar que o envelhecimento da população é um problema já existente não exclusivamente no Japão, mas em outros países do mundo. As consequências vão desde a escassez de mão de obra até um impacto negativo econômico, incluindo o aumento de pessoas desempregadas e dos custos da previdência social. Diante desse cenário, muitos idosos veem o ‘Plano 75’ como uma oportunidade de honrar o país e ajudar os futuros cidadãos.

Personagens bem construídos

Ao lado de Jason Gray, que também assina o roteiro, Hayakawa inicia o longa com jovens senhoras, que trabalham como camareiras em um hotel. Em seguida, Hiromu ganha destaque como o homem que oferece o programa para os idosos, entretanto, as coisas mudam quando tal escolha passa diante de seus olhos. Maria aparece na história como uma das responsáveis por retirar os pertences dos falecidos, o que a faz questionar seus valores e o objetivo de pagar uma cirurgia para a filha pequena. Michi completa a comovente trama e nos deixa um questionamento: de que forma o idoso é tratado pela sociedade?

Com 1h52, a cineasta – que teve como inspiração A Balada de Narayama, filme de 1983 que aborda os desafios da população idosa japonesa – propõe ao espectador uma ampla visão sobre a solidão, o abandono familiar, o etarismo, as limitações físicas e o desinteresse na terceira idade. Você tiraria 15 minutos do seu dia para ouvir o que uma senhora tem para contar? O que você faria se descobrisse que um velho tio já não tem mais vontade de viver? Você conseguiria atender a um último pedido de um ancião?

A reflexão final

Em conclusão, Plano 75 é uma carta aberta à nova geração que deixou de se importar com os idosos. Com uma excelente fotografia e um final que foge do óbvio, o título, doloroso e emocionante, prova que eles ainda são dignos de amor e atenção. Embora apresente um ritmo lento, o longa, que chega aos cinemas brasileiros em 25 de abril, mostra ser mais que necessário nos dias atuais.

Next Post

Evento educativo do Rock in Rio tem preços revelados

A Rock World, empresa que criou, organiza e produz o Rock in Rio e o The Town, anunciou oficialmente o lançamento da 5ª edição do Rock in Rio Academy by HSM e Provoke. Neste ano, o evento educativo acontecerá no dia 17 de setembro, dentro da Cidade do Rock, entre […]
O Rock in Rio Academy também vai disponibilizar discursos inspiradores online sobre empreendedorismo e liderança.