Mare of Easttown dá novas camadas a drama policial

Carlos Bazela
Mare of Easttown dá novas camadas a drama policial

Easttown é a típica cidade pequena dos Estados Unidos onde todo mundo se conhece. Isso quando não são parentes. Então, quando algo grave como o desaparecimento da jovem Kate Bailey (Caitlin Houlahan, de Girls) acontece, é esperado que todas as atenções recaiam para a detetive Mare Sheehan (Kate Winslet, de Titanic). Some o fato de que a mãe da moça, Dawn Bailey (Enid Graham, de Bull) é amiga de infância de Sheehan e o que temos é uma pressão extra que pode destruir o relacionamento das duas para sempre se o caso não for solucionado.

E é exatamente isso que está acontecendo. Afinal, já se passou 1 ano e não há pistas que levem ao paradeiro de Katie. A polícia nem tem como saber se a garota está viva ou morta. Contudo, como uma só desgraça é pouco na pequena cidade, outro crime brutal choca o local: um assassinato. De outra mulher. E é aí que o mundo de Mare desaba de vez. Essa é a premissa de Mare of Easttown, série da HBO cujos 7 episódios já estão disponíveis no HBO Max.

Se em um primeiro momento a série parece ser mais do que já foi visto em outros dramas criminais, como The Sinner, da Netflix, e tantas outras – desde que o próprio Sherlock Holmes ajudou a imortalizar a figura do gênio dedutivo cheio de problemas pessoais –, bastam 2 episódios para ver que Mare está muito mais próxima de nós do que imaginamos. E até do que gostaríamos de admitir.

A face familiar da depressão

Entre cigarros eletrônicos, salgadinhos e cerveja, a detetive Sheehan se afunda cada vez mais no trabalho, enquanto sua família vai se desfazendo. Mare está se recuperando – ou é o que ela diz – do suicídio do filho Kevin (Cody Kostro, de Foxhole). Ela ainda cuida do neto de 4 anos, Drew (Izzy King, estreante), pois a nora, Carrie (Sosie Bacon, de 13 Reasons Why), enfrenta problemas com drogas e está frequentemente entrando e saindo da reabilitação.

Para completar, há uma relação não muito próxima com sua mãe, Helen (Jean Smart, de Watchmen), e ainda mais distante com sua filha Siobahn (Angourie Rice, de Homem-Aranha: Longe de Casa). Como se não fosse suficiente, seu ex-marido, Frank (David Denman, do reboot de Power Rangers), está começando vida nova em outro casamento na casa que fica literalmente no seu quintal.

Mas, o que mais assusta em tudo é o senso de normalidade passado pela policial. A relutância em falar do filho morto, em aceitar novos relacionamentos, ainda que o charmoso escritor Richard Ryan (Guy Pierce, de Homem de Ferro 3), não mostre sinais de desistência, e, claro, a recusa terminante de entrar na terapia, fazem com que nos identifiquemos com ela. Principalmente em etapas mais sobrecarregadas de nossas vidas, daquelas tão difíceis que não conseguimos mensurar o peso que estamos carregando.

Suspense de qualidade

Entretanto, não pense que o foco na vida pessoal da protagonista diminua a qualidade do drama investigativo de Mare of Eastown. A cada episódio, novos elementos são adicionados a ambos os casos, novos envolvimentos surgem e novos álibis caem por terra. Como uma boa série de suspense, chega o momento no qual você desconfia de todo o elenco e tem fortes convicções para tanto. Sabendo disso, a minissérie criada e escrita por Brad Ingelsby (O Caminho de Volta) se aprofunda nas relações entre os personagens para manter o espectador tenso e fisgado em frente à TV, entregando reviravoltas e surpresas que valem uma maratona.

Aliás, as relações são o ponto forte do show. Com atuações primorosas do excelente elenco e a boa condução de Craig Zobel (One Dollar) é possível sentir o drama que assola a pequena cidade e, ao mesmo tempo, tentar decifrar expressões para descobrir quem está mentindo nas investigações.

No mais, Mare of Easttown é uma obra sobre limites cruzados e suas consequências. E sobre como o peso de um trauma emocional pode ser esmagador para uma pessoa e todos ao seu redor.

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