Batman: Amaldiçoado: história é maior que pênis de Bruce Wayne

Carlos Bazela

Quando as primeiras páginas de Batman: Amaldiçoado ganharam a web, o foco ficou para um pequeno – ou não tanto – detalhe da incrível arte de Lee Bermejo: Bruce Wayne aparecia nu e, em meio às trevas do cavaleiro da DC estava lá o pênis do herói. Isso por si só já fez com que a HQ, que tem roteiro de Brian Azzarello, despontasse para outras mídias fora das especializadas no segmento e o assunto se tornasse um dos mais comentados da semana.

No entanto, os comentários sobre a trama acabaram se encolhendo em meio a um prepúcio de polêmicas sobre o órgão do Batman e bem pouco se disse sobre a qualidade da graphic novel. Até agora, já que chegou a nossa vez de conferi-la em mãos, na versão publicada pela Panini, que havia sido prometida em painel pela editora na CCXP 2019. E o resultado é suficiente para causar excitação nos aficionados por quadrinhos, por trazer papel especial, acabamento luxuoso e, claro, capa dura no encadernado que reúne a história – que saiu nos EUA como minissérie em três partes.

Imagem de Batman: Amaldiçoado, publicado pela Editora Panini
A HQ apresenta roteiro ainda mais sombrio entre histórias do Homem-Morcego. (Foto: DC)

E Amaldiçoado também encanta pelo seu conteúdo. Há a mesma atmosfera pulp de investigação e violência trazida em Cidade Castigada, outra história do personagem escrita por Azzarello, ao começar com um Batman que acorda ferido e raivoso em uma ambulância, após cair de uma das pontes de Gotham direto no rio.

Enquanto foge para preservar sua identidade dos paramédicos e se questiona como sobreviveu, ele acaba desmaiando e sendo salvo por John Constantine. Ao retomar a consciência, o Morcego se encontra curado das perfurações de faca entre as costelas e vê no noticiário o Coringa também sendo retirado também das águas do rio. Sem vida. Mas, quem fez isso? Estaria ele também na ponte? Terá o Batman ido longe demais?

Céu e inferno

É aí que o romance policial vai se tornando suspense, que envereda pelo terror à medida que o elemento sobrenatural é inserido. Wayne começa a sentir ataques de ansiedade, crises de pânico e a ser atormentado pela impressão de que seu maior inimigo ainda está vivo. Sensações que vêm acompanhadas de estranhos crimes que parecem ter a assinatura do vilão e contrariam as evidências de sua morte.

A presença do ocultista inglês e o clima soturno da história levam a crer que o Coringa pode ser o autor dos crimes e ainda assim estar morto. E, para chegar ao fundo dessa história, o Batman terá de aceitar a ajuda não só de Constantine, mas de outros personagens da Liga da Justiça Sombria, como Zatanna, Desafiador e até o Monstro do Pântano.

Os personagens místicos mostrarão a ele que há mais coisas entre o céu, inferno e a terra do que sua mente analítica de detetive é capaz de processar. Tudo isso enquanto o Cruzado de Encapuzado procura identificar uma figura feminina – conhecida dos fãs da DC – ligada ao seu passado, que surge em visões e parece decidida a levar sua alma ou, pelo menos, sanidade.

Tarja preta

Embora o grande destaque da HQ na mídia tenha sido justamente o nu frontal do Batman, a edição publicada aqui segue a versão digital e as tiragens posteriores de Batman: Amaldiçoado, que saíram nos EUA devidamente censuradas. E isso abre margem para uma discussão relativamente longa. Se, por um lado, o pênis à mostra é, de fato, gratuito, sem acrescentar nada à trama e só serve para afirmar que se trata de uma HQ adulta, o mesmo recurso de nudez tem sido explorado há anos pela indústria de quadrinhos ao retratar personagens femininas no mesmo contexto. Sendo assim, não seria o caso dele ser mantido?

Censurado nos EUA e no Brasil, nu frontal marcou estreia de selo adulto. (Foto: DC)

Por falar em história adulta, o gibi encabeça o selo DC Black Label, criado no ano passado pela equipe do editor Jim Lee para publicar as narrativas mais maduras da casa, que antes saíam pelo selo Vertigo, agora extinto. E, depois de ler a obra, podemos dizer que esse debute é excelente. A HQ é imersiva e mostra mais uma vez que o texto de Azzarello e a arte de Bermejo são capazes de envolver o leitor como já haviam feito na graphic novel Coringa.

Sem dar qualquer pista do desfecho da trama até que ela termine, Batman: Amaldiçoado ainda sacode o cânone do personagem, criando passagens sombrias sobre a infância de Bruce e desconstrói a perfeição do casamento entre seus pais, o que contribui para a criação de um Homem-Morcego que é quase um anti-herói, algo que Lee Bermejo mostrou em outro trabalho seu, o gibi Batman – Noel (2011). Um Batman difícil de se ter empatia: ainda mais trágico, implacável, mas principalmente, mais humano.

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