Desventuras em Série: Fiel aos livros, 1ª temporada sorri da desgraça

Imagine o pior dia de sua vida, mas insistentemente prolongado por semanas, meses e mais… algo semelhante ao que foi o trágico e quase infindável ano de 2016. Assim é a triste existência dos três órfãos Baudelaire, seja nos livros de Lemony Snicket (pseudônimo de Daniel Handler), no filme de 2004 e na nova atração da Netflix. Dividida em 8 episódios (cada 2 narram 1 livro), a 1ª temporada de Desventuras em Série traduz com muita precisão a essência da obra literária, numa encenação fiel dos seus acontecimentos desafortunados e diálogos melancólicos.

Com Neil Patrick Harris (o Barney Stinson, de How I Met Your Mother) no papel do vilão Conde Olaf, a temporada inicial da versão de “A Series of Unfortunate Events” da Netflix é inspirada nas histórias de Mau Começo, A Sala dos Répteis, O lago das Sanguessugas e Serraria Baixo-Astral (os 4 primeiros volumes). Como a inventora Violet, o leitor Klaus e Sunny – a bebê com quatro dentes afiadíssimos –, respectivamente, o programa traz Malina Weissman (Supergirl), Louis Hynes (A Rebelião dos Bárbaros) e a pequena estreante Presley Smith.

Desventuras em Série da Netflix tem poucas diferenças em relação aos livros. Divertidos números musicais são uma delas. (Foto: Netflix)
Desventuras em Série exibe poucas diferenças em relação aos livros. Divertidos números musicais são uma delas. (Foto: Netflix)

Em sua trama, Lemony Snicket: Desventuras em Série acompanha os irmãos Baudelaire desde o momento em que o azarado trio recebe a notícia de que seus pais foram vítimas fatais de um incêndio misterioso, deixando lhes sob a guarda de um parente próximo – o que, neste caso, graças a falta de interesse do senhor Poe (K. Todd Freeman, de Buffy: A Caça-Vampiros), representante legal, significa: o Conde Olaf. Cruel e nojento, o novo tutor das crianças promete fazer de tudo (isto é, confabular, se disfarçar  e matar…) para botar as mãos na fortuna herdada por elas.

Diferente da adaptação que chegou às telonas no começo do milênio, a atração já disponibilizada no catálogo da Netflix é uma recriação detalhadíssima das páginas de cada livro da saga, mostrando o momento a momento dos desagradáveis eventos da vida de Violet, Klaus e Sunny. E isso serve de trunfo para contar uma história mais elaborada, com os órfãos e Olaf dividindo as atenções com personagens secundários, como o sr. Poe, o tio Monty (Aasif Mandvi, de O Ditador), a tia Josephine (Alfre Woodard, de Luke Cage) e a Juíza Strauss (Joan Cusack, Toy Story 2).

Malina Weissman, Louis Hynes e a pequena Presley Smith têm ótimas atuações em seu primeiro grande trabalho. (Foto: Netflix)
Malina Weissman, Louis Hynes e a pequena Presley Smith têm ótimas atuações em seu primeiro grande trabalho. (Foto: Netflix)

Caso você tenha lido a saga, perceberá que os cenários captam o ar deprimente de cada linha escrita pelo autor, como são a cinzenta Praia de Sal, o casebre habitado por Olaf e o Lago Lacrimoso, enquanto os coloridos da Sala dos Répteis do bondoso Montgomery são um alívio curto e raro. Circulando inconvenientemente por esses ambientes, estão as “mulheres de rosto branco” (Jacqueline e Joyce Robbins, de O Sacrifício), “o homem de mãos de ganchos” (Usman Ally, de Vice) e a “pessoa de gênero indeterminado” (Matty Cardarople, de Selfie), da trupe teatral de Olaf.

No entanto, por ser extremamente fiel aos livros, Desventuras em Série se concentra em tantos detalhes que pode exigir paciência de quem espera por ação (aqui o termo “ação” quer dizer “uma sequência desenfreada de desgraças”), que engrena a partir do quinto capítulo (intitulado “O Lago das Sanguessugas”). Assim, a maior parte dos acontecimentos lamentáveis da jornada dos Baudelaire é retrata por ironias e situações de humor negro, sempre com as explicações do participativo narrador Lemony Snicket (Patrick Warburton, de Family Guy).

O narrador Lemony Snicket frequentemente “quebra a 4ª parede” (que aqui significa “fala diretamente com telespectador”). (Foto: Netflix)
O narrador Lemony Snicket “quebra a 4ª parede” (isto é, “fala diretamente com o telespectador”). (Foto: Netflix)

Embora fique a impressão de que as performances de Neil Patrick Harris sob os disfarces de Olaf tenham mais espaço do que os garotos, o seriado da Netflix apresenta o modelo certo para contar as Desventuras em Série dos Baudelaire. Brincando com público, o programa ainda proporciona uma experiência interessante, que é fazer o telespectador manter a esperança apesar de todos os pesares, avisos, desilusões e recomendações para desistir…

E, com seus protagonistas, a série mostra que para superar problemas, nada melhor do que uma mente criativa, o hábito da leitura ou dentes afiados!

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