Terra Um coloca Mulher-Maravilha em guerra dos sexos

Carlos Bazela
Terra Um coloca Mulher-Maravilha em guerra dos sexos

A linha Terra Um (conheça aqui) ficou conhecida por trazer diferentes abordagens para alguns dos medalhões da DC e ganhou os holofotes recentemente por ter sido a maior fonte de inspiração para o Batman, de Matt Reeves. Assim, outro título que vale a pena conferir é a versão desse universo para a Mulher-Maravilha, publicada em 3 edições de capa dura pela Panini.

O ponto de partida da trama, escrita por Grant Morrison, é o mesmo que conhecemos da origem clássica: o piloto Steve Trevor sofre um acidente aéreo e acaba caindo na ilha das amazonas, que aqui recebe o nome de Amazônia.

Aos poucos, ele conquista a confiança das mulheres e desperta a curiosidade da princesa Diana, filha da rainha Hipólita. Decidida a fazer diferença no mundo do patriarcado, a moça volta com Steve para o continente e usa seus dons únicos para proteger as pessoas como Mulher-Maravilha.

O Clássico e o novo

Em Terra Um, também temos de volta outro elemento importante das histórias clássicas da Mulher-Maravilha: a tecnologia, que vai desde os raios púrpuras de cura até os veículos invisíveis, deixando as guerreiras menos tribais e mais parecidas com os atlantes em termos de civilização. Uma interpretação valorizada pelo ponto mais alto das 3 edições: os desenhos de Yanick Paquette e as cores de Nathan Fairnairn.

Porém, se há pontos em que a história parece familiar, há outros nos quais ela abraça o contemporâneo que é a proposta da linha, colocando Trevor como um homem negro, debatendo racismo, opressão de minorias e outros preconceitos, principalmente sob o viés do machismo.

O enredo acerta ao colocar a Mulher-Maravilha como ícone cultural de político, que transita entre todas as esferas, seja na amazona de corpo perfeito nas capas de revistas de moda e fittness ou como a líder de um discurso que prega a supremacia feminina como alternativa para a paz mundial completa. E é aí que tudo fica interessante.

Com análises importantes sobre o papel da mulher, a repressão pelo machismo e visão franca sobre a bissexualidade da heroína, o roteiro deixa os tabus dentro da gaveta para botar a personagem em uma discussão que, invariavelmente, acaba se tornando uma guerra dos sexos.

Derrapada no feminismo

Contudo, a abordagem, que é o maior acerto de Terra Um, também deixa a trama devendo em muitos pontos.

Ao fomentar a busca por superioridade pelas mulheres, a história de Morrison vai um pouco contra a igualdade levantada pelo feminismo tradicional. E, e ao pender demais para um lado na balança de poder, acaba criando um retrato caricato do que seria uma realidade sem conflitos, obtida por colocar as mulheres no comando do mundo. Principalmente por como seriam os homens nesse contexto.

Assim, se o autor acerta em colocar as guerras e desigualdades na conta do machismo estrutural, personificados por Ares, o roteiro peca ao transformar quase em piada uma questão importante para discussão nos cenários políticos e diplomáticos de hoje.

Next Post

Only Murders in The Building é mistério e risadas no Star+

Os podcasts sobre crimes reais se tornaram uma febre no mundo todo. Mas, no edifício Arconia, três moradores resolveram levar essa paixão um pouco além. Quando o alerta de incêndio acoberta um aparente suicídio, Charles-Haden Savage (Steve Martin, de A Pantera Cor de Rosa), Mabel Mora (Selena Gomez, de Os […]
Only Murders in The Building é mistério e risadas no Star+