Quando ele está salvando o mundo ao lado dos Vingadores, a gente até esquece que Clint Barton, o Gavião Arqueiro, é uma pessoa comum. Alguém que gosta de curtir um café e a boa comida de Nova York. E de desmantelar cartéis de drogas como o que é controlado por Parker Robbins, o Capuz. Bem, talvez ele não seja tão comum assim.
Mas, quando ele fica sabendo que existe alguém fazendo justiça nas ruas de um jeito brutal e usando o traje e seu antigo nome de Ronin, o chefão do crime passa a não ser o único dos seus problemas. Esse é o cenário de Queda Livre, história em volume único publicada aqui pela Panini, que conta com roteiro de Matthew Rosenberg e arte de Otto Schmidt.
Tudo fica mais difícil na vida do arqueiro quando ele precisa equilibrar seu relacionamento com Linda Carter, a Enfermeira Noturna, nessa complicada equação. O resultado é um herói problemático que se afunda em enrascadas, enquanto entra na mira de um inimigo mais poderoso do que ele esperava e enfrenta a desconfiança de amigos. Afinal, embora o manto do Ronin tenha sido usado por outras 3 outras pessoas no Universo Marvel, como ele mesmo menciona, as habilidades desse novo anti-herói fazem com que as suspeitas recaiam sobre Barton, que usou a alcunha após os eventos de Vingadores: A Queda e Guerra Civil.
Uma história engraçada…
Um ponto marcante de Queda Livre é o humor ácido, já presente em outros gibis do Gavião Arqueiro. Diferente do Homem-Aranha, por exemplo, que faz piadas para si mesmo ou do Deadpool, que desencana do enredo para tirar sarro da trama junto com o leitor, o roteiro favorece o sarcasmo de Clint, fazendo com que outros personagens entrem na onda. Parecido com o arco de Matt Fraction.
Os palavrões censurados e a narração feita pelo próprio Vingador são ponto certeiro no texto de Rosenberg e humanizam o herói em uma história que prende o leitor até o fim e só melhora a cada página. Como se não bastasse, o quadrinho ainda está cheio de participações especiais, que vão desde as mais previsíveis, como Bucky e Sam Wilson, sendo este último como Falcão, Viúva Negra e Harpia, até as menos prováveis, como o Homem-Aranha e Wilson Fisk, o Rei do Crime – que aqui está como prefeito de Nova York.
…até a página dois
Mas, não se engane pelo tom satírico. A narrativa faz jus ao nome e o Gavião está caindo em um poço sem fundo de problemas, que levam a reviravoltas surpreendentes e a um final inesperado. Tudo bem retratado pela arte de Schmidt, que tem como ponto forte a expressividade dos personagens.
Queda Livre ainda encontra espaço para fazer algumas críticas sociais mais pesadas ao sistema de justiça norte-americano, no qual os grandes figurões se safam enquanto os capangas, muitas vezes levados ao crime pelo desespero, encontram na cadeia o único destino. E como um herói sem poderes pode acabar atraindo para si um fardo maior do que pode carregar ao desafiar esse sistema corrompido.