Days Gone: criatividade revigora gênero de “tiro e zumbi”

Carlos Bazela

Resident Evil é referência em jogos com temática de zumbi e disso ninguém vai discordar. Pudera, a franquia da Capcom existe desde 1996 e se reinventou bastante desde seu início. Logo, a necessidade de comparação é o primeiro desafio que o jogador precisa vencer quando ingressa no mundo de Days Gone, game exclusivo para Playstation 4, lançado em abril deste ano.

Contudo, a partir do momento em que se encara o produto da Bend Studio como algo novo, mesmo feito em cima de um tema tão batido, ele se torna uma aventura divertida e de ritmo próprio, capaz de deixá-lo na frente da TV por horas para desvendar todos os mistérios de seu gigantesco mapa, enquanto tenta sobreviver.

Na história, que já começa com uma evacuação em massa após o acontecimento apocalíptico, controlamos Deacon St. John, seu amigo Boozer e sua esposa Sarah, que embarca sozinha em um helicóptero após Deacon resolver ficar no solo para ajudar o colega gravemente ferido. O título se inicia com um salto temporal no qual encontramos os motoqueiros cruzando os Estados Unidos em busca de um lugar seguro.

Moto clube do apocalipse

St. John e Boozer não são propriamente heróis. Ambos são membros remanescentes de um moto clube – isso mesmo, daqueles bem clichê – e têm muita intimidade com armas, algo que define o tom do jogo e ajuda a diferenciá-lo de outros do gênero. Em Days Gone, o jogador realiza missões no sistema “mundo aberto” enquanto busca sobrevivência e entender o que aconteceu com a Terra e com as pessoas próximas.

O que se sabe até o momento é que uma epidemia transformou boa parte da população em “Frenéticos”, uma espécie de zumbi extremamente rápida e letal, com garras e dentes afiados. Ainda há os Rippers, um estranho culto assassino e, claro, os sobreviventes, como os dois motoqueiros que precisam fazer o que é preciso para continuarem vivos.

Os rippers são psicopatas que sempre causam estrago quando aparecem. (Foto: Bend Studio)

É esse suspense e o quanto o jogador se sente inserido naquele mundo que dão graça a Days Gone. Com pouco carisma, Deacon é apenas um meio para que a pessoa ao controle interaja com os elementos em volta e faça parte da história, mostrando as escolhas que faria e como agiria na pele dele. Mas, isso cobra seu preço e a apatia do protagonista pode frustrar alguns dos jogadores mais exigentes.

Pensando rápido

Uma das partes mais interessantes do game é a dinâmica de combate. Os controles são fáceis e permitem ao jogador construir itens, alternar entre armas e se mover com agilidade para derrotar inimigos. Mas não se engane: Days Gone não é um jogo fácil e mesmo em dificuldade menor, não é difícil morrer rápido nas mãos dos Frenéticos.

Para facilitar a vida, o título oferece uma infinidade de upgrades nas habilidades, bem como a montagem de armas de diversos tipos, além da possibilidade de usar elementos recolhidos pelo cenário para dar cabo das criaturas.

Outro elemento que Days Gone insere no gênero é a motocicleta. Pilotá-la em florestas e trilhas exige certa perícia – é bem mais difícil do que no GTA V, por exemplo – e encontrar postos de gasolina e ter de consertá-la quando necessário fazem com que o jogador precise ficar atento para coisas que normalmente não são exigidas quando se vai do ponto A para o B em um jogo desse estilo e isso é mesmo legal de se fazer.

Barato até demais

Uma boa notícia sobre Days Gone é que ele pode ser encontrado já por preços bem mais acessíveis, uma vez que saiu há quase sete meses. Mas, gamers experientes vão notar que ele está até barato demais para um jogo tão aguardado e recente. As razões para isso, fora a falta de carisma de Deacon St. John, podem ser a quantidade de bugs – quase todos resolvidos após instalar as atualizações – e o timing ruim das cutscenes, que entram de forma inesperada, pouco fluidas e parecem saídas de jogos de duas gerações atrás, dada a qualidade discutível.

Entretanto, como falamos no início, quando um jogo é comparado a nada menos que um Resident Evil, ele precisa de muito para se destacar. Assim, ou temos uma obra-prima narrativa com personagens incríveis, caso de The Last of Us, ou uma experiência que traga boa jogabilidade e ainda alguma novidade, que transforme enfrentar hordas de humanos infectados em algo diferente, desafiador e divertido.

Preste atenção, pois o clima e período do dia influenciam no game. (Foto: Bend Studio)

Days Gone vai por esse segundo caminho, entregando um jogo que pode frustrar a quem busca um personagem para se identificar, mas acerta em cheio ao colocar o jogador em um apocalipse diferente, com a possibilidade de se sentir parte do elenco de uma produção como The Walking Dead, na qual é possível sair de moto, desbravando paisagens belas e ao mesmo tempo desoladas, enquanto vive um dia de cada vez.

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