Se Watchmen – que está para virar série pela HBO – é uma HQ que gerou tanta controvérsia ao chegar ao cinema, a simples ideia de termos algo como The Boys nas telas era praticamente impensável até pouco tempo. Ainda bem que isso mudou e o título, que adapta o gibi criado por Garth Ennis, se transformou em um seriado cujos oito episódios da primeira temporada estão disponíveis no serviço de streaming Amazon Prime Video.
A história começa com uma apresentação para acionistas realizada por Madelyn Sitwell (Elizabeth Shue, de O Homem Sem Sombra), executiva da Vought American, que está dividindo o sucesso de seus últimos filmes de super-heróis e os lucros atingidos no último balanço. Nada diferente da Walt Disney e Warner Bros., com Marvel e DC, respectivamente, não fosse pelo fato de que a empresa não só lucra com os supers no entretenimento, mas administra as suas carreiras. Sim, neste mundo os supers são reais e têm status de celebridades.
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Na trama, alguns acontecimentos seguem extremamente fiéis ao quadrinho, como o incidente que dá início à jornada, quando Robin (Jess Salgueiro, de Orphan Black), namorada de Hughie (Jack Quaid, de Vinyl), é literalmente espatifada na sua frente após ser atropelada por Trem Bala (Jessie T. Usher, de Shaft), um super-herói velocista, que nem se quer se importou com o que houve.
Então, o rapaz é procurado por um suposto agente do governo, Billy Butcher (Karl Urban, de Star Trek), com a promessa de dar o troco no super que matou sua amada. Mas, para isso, deve ajudá-lo a reunir sua antiga equipe, que contava com O Francês (Tomer Capon, de Fullmoon) e Leite Materno (Laz Alonso, de Os Mistérios de Laura), soldados competentes e que não tem tanto apreço assim por Butcher.
Histórias paralelas
Enquanto acompanhamos a vingança de Hughie tomar forma – de um jeito que nem ele mesmo imagina que possa ser possível – vemos também o outro lado. Annie, a jovem heroína Luz-Estelar (Erin Moriarty, de Capitão Fantástico) está prestes a realizar seu maior sonho: se tornar um membro dos Sete (uma espécie de Liga da Justiça). Além da novata, a equipe de heróis é composta pelo Capitão Pátria (Anthony Starr, de Banshee), Rainha Maeve (Dominique McElligott, de Hell on Wheels), Profundo (Chace Crowford, o Nate de Gossip Girl), Translúcido (Alex Hassell, de Cold Mountain), Black Noir (Nathan Mitchell, de iZombie) e Trem Bala.
Ingênua e idealista, Luz-Estelar acaba descobrindo como o mundo dos heróis é cruel ao ser assediada sexualmente por Profundo. E, de quebra, ainda se envolve com Hughie sem saber que o rapaz está sendo usado pelos Rapazes para conseguir informações dos Sete. Com o tempo, os dois acabam se apaixonando, o que só torna a vida de ambos ainda mais difícil. Afinal, o Capitão Pátria suspeita de um traidor na equipe e todas as suspeitas recaem sobre ela.
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Quem leu os quadrinhos, publicados pela Devir, vai sentir falta da Fêmea na equipe logo de início. Ela não foi esquecida, mas contar qualquer coisa sobre sua aparição na série é um belo spoiler dessa primeira temporada. Então, basta dizer que Karen Fukuhara (a Katana, de Esquadrão Suicida) é outro acerto da produção.
Igual, mas diferente
Enquanto algumas passagens da série seguem a HQ rigorosamente à risca, outras mudam bastante para se adaptar a outra mídia. Em alguns momentos, The Boys abandona o tom satírico escrachado da obra original para adotar um tom bem sombrio, que supera até os momentos sinistros do quadrinho. O mesmo acontece com alguns personagens, como a mudança na caracterização do Profundo e a substituição de Jack de Júpiter pelo Translúcido.
Mas, a verdade é que a maioria dos acontecimentos do gibi está na série, ainda que em diferente ordem ou contexto, e é isso que faz de The Boys uma das adaptações mais fiéis já produzidas. Outro ponto que funciona no Prime Video é a profundidade dos personagens. Profundo e Trem Bala são exemplos disso e mostram que, no mundo real, nem sendo superpoderoso você está livre de responder pelos seus erros.
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O contexto da Vought também é ótimo. A ideia de um conglomerado de mídia que explora os superseres e negocia sua atuação em campanhas militares não podia vir em melhor momento do que num mundo após Vingadores: Ultimato – o que faz as comparações com a Marvel Studios divertidamente inevitáveis.
No mais, The Boys ganha o espectador pela alternância de escracho com escatologia e a mistura entre sexo, suspense, ação e super-heróis. Tudo junto e misturado em um caldeirão com bons roteiros e principalmente atuações excelentes de todo o elenco. O único ponto desagradável é a quantidade de episódios. Embora resumam o primeiro arco da HQ, deixam o telespectador com vontade de assistir mais e mais dessa maravilhosa insanidade.