Quando saiu em 2018, o primeiro título da franquia celebrava a exuberância da cultura africana, tendo como personificação dessa riqueza o líder de uma nação farta em recursos e tecnologia. Uma mensagem bastante necessária. Quatro anos depois, o discurso mantém sua importância, mas o mundo dentro e fora da ficção já não é mais o mesmo. Eterno Pantera Negra, o ator Chadwick Boseman faleceu em 2020, ano que colocou o planeta em luto.
A morte de Boseman, além da perda de um grande talento, impactou o público já fragilizado pelo início do período de pandemia – além de inevitavelmente abalar o prosseguimento dos títulos do universo cinematográfico da Marvel Studios. No entanto, a decisão pela produção de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre foi mantida e, com isso, vieram inúmeros boatos sobre como a saga seria conduzida agora sem o querido intérprete do Rei T’Challa.
A resposta para isso? Um filme que respeita e explora todo o ciclo do luto, mas que também olha com otimismo para o futuro, sem deixar de entregar uma atualíssima trama sobre política transnacional.
O pior dos momentos
O longa de Ryan Coogler (diretor do anterior) tem em Shuri (Letitia Wright), irmã caçula de T’Challa, o principal rosto para expressar a perda. Na produção, as primeiras cenas logo tratam o rei de Wakanda como vítima de “uma doença”. Shuri, apesar do intelecto privilegiado, percorre por todo o processo de luto, a começar pela impotência diante da tragédia. O sentimento é relacionável a quem recentemente viu pessoas próximas tendo suas vidas ceifadas pela covid-19.
Da negação à aceitação, Shuri tem caminho árduo para um amadurecimento forçado, como acontece em qualquer experiência de luto. Sob os holofotes, a personagem explode em raiva, desprezo pelas tradições de seu povo e acaba buscando refúgio isolada nos trabalhos de seu laboratório – sem a menor disposição para ser simpática com todos ao seu redor, o que inclui a inteligência artificial chamada Griot (Trevor Noah). Mas tempo e necessidade mudam as coisas.
No roteiro habilmente costurado por Coogler e Joe Robert Cole (roteirista primeiro filme) para Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, o período para lágrimas (meio que) termina quando surge Namor (Tenoch Huerta Mejía, de Narcos: Mexico), mutante que pede a ajuda de Wakanda para impedir que outras nações vasculhem os oceanos em busca de vibranium – o metal mais raro do mundo. Namor ameaça invadir Wakanda com seus exércitos caso não haja cooperação.
Novatos em trama política
Enquanto Rainha Ramonda (Angela Bassett) e M’Baku (Winston Duke) funcionam como vozes da razão para Shuri, a princesa wakandana, Namor e Riri Williams (Dominique Thorne, de Se a Rua Beale Falasse) ficam como principais figuras da história. Estrela da próxima série do Disney+, Riri é apresentada como uma jovem norte-americana com aptidão para o desenvolvimento de novas tecnologias – uma delas capaz de achar vibranium.
A presença de Riri no enredo leva a guerra entre Wakanda e a cidade submersa de Talokan para os EUA, país que, entre outras nações ricas, deseja botar as mãos no vibranium. Com isso, o título passa a abordar e discutir as semelhanças entre os processos de colonização tanto no continente africano quanto sobre os povos ameríndios. A caracterização de Namor pela cultura asteca tem esse propósito e ajuda a apontar o verdadeiro inimigo.
Concluindo a Fase 4 do MCU, Pantera Negra: Wakanda Para Sempre expõe um carrossel de emoções condizente com esse momento de superação de um grande trauma e usa do problema geopolítico no roteiro como vitrine para a pluralidade cultural (a marca da franquia). Por fim, em 2h41 de duração, as homenagens a Chadwick Boseman e T’Challa são belíssimas e fazem com que caixinhas de lenços sejam essenciais para a sessão.
Na sessão de imprensa, vimos 1 cena pós-créditos.