Pam & Tommy é aula didática sobre machismo

Carlos Bazela
Pam & Tommy é aula didática sobre machismo

São os anos 90 e o seriado S.O.S. Malibu faz sucesso inclusive no Brasil. O motivo? Uma certa Pamela Anderson correndo em câmera lenta na praia com seu maiô vermelho de salva-vidas. Para quem nasceu depois dessa época, a minissérie Pam & Tommy, do Star+, relembra esse momento da TV com foco no escândalo que deu o que falar: o vazamento da fita com cenas de sexo dela com seu então marido, Tommy Lee – o baterista do Mötley Crüe.

Em 6 episódios bem dirigidos e embalados com uma excelente trilha sonora, como a gente já comentou aqui, a minissérie conta a vingança do carpinteiro Rand Gauthier (Seth Rogen, de Superbad: É Hoje) que, por não ser pago e, frequentemente maltratado por Lee, decide roubar um cofre de sua mansão. Lá dentro, além de armas, joias e dinheiro, está uma fita caseira.

Ao assistir seu vídeo na produtora de um amigo envolvido com filmes pornôs, a ideia de vender o conteúdo, sem autorização dos protagonistas, por meio de um site anônimo, aproveitando que a internet engatinhava e qualquer tipo de regulação da rede era algo que nem chegava a ser debatido.

Inspiração na Rolling Stone

Pam & Tommy é inspirada em uma reportagem escrita pela jornalista Amanda Chicago Lewis para a Rolling Stone (leia na íntegra), na qual ela destrincha toda a sorte de incidentes e crimes cometidos para que a infame sextape chegasse aos olhos do público. Uma história de crime que envolvia desde a máfia ao submundo da pornografia californiana.

Isso enquanto Lewis narra detalhes sobre o tórrido romance da atriz e coelhinha da Playboy com o visceral e descerebrado baterista. Principalmente o fato de eles terem se conhecido e decidido se casar em apenas quatro dias. E, como se essa história por si só já não fosse interessante o bastante, as atuações de Sebastian Stan e Lily James não só estão excelentes na pele do casal protagonista, como tiram ambos totalmente da doce Ellie, de Yesterday, e do heroico Soldado Invernal da Marvel.

“Vadias não têm direitos”

Embora flerte com a comédia de absurdo em diversas passagens para arrancar gargalhadas do público, principalmente nos diálogos expressivos entre Tommy Lee e seu pênis – sim, você leu certo – Pam & Tommy é uma aula sobre os mecanismos do machismo.

Com os esforços legais falhando em conter a viralização do vídeo, Pamela precisa lidar com toda a carga que a fita trouxe: desde ser acusada de usar isso como golpe publicitário até ser recusada em vários papeis, enquanto seu marido era  ovacionado em bares por sua “performance em cena” e pelo tamanho do seu membro. Um reconhecimento que ele até se esforça para parecer incomodado, no início.

Enquanto isso, cada vez mais exausta pela situação e ainda grávida, a atriz desabafa a frase acima ao constatar que, aos olhos da sociedade, não passa de hipocrisia uma garota se sentir violada por ter um vídeo íntimo vazado, uma vez que ganha a vida de maiô na TV e já foi a estrela de ensaios nus para a revista masculina de Hugh Hefner.

E se fosse hoje? Será que as coisas seriam diferentes para Pamela Anderson?

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