Heróis em Crise é a história quase perfeita da Liga da Justiça

Carlos Bazela

Heróis em Crise é o tipo de história que qualquer fã de quadrinhos se interessa para ler no momento em que fica sabendo do que se trata. O roteiro, escrito por Tom King, fala sobre a existência do Santuário, local criado e mantido pela Trindade da Liga da Justiça (Superman, Batman e Mulher-Maravilha) para oferecer auxílio psicológico a heróis e até alguns vilões. Tudo isso disfarçado como uma fazenda no meio-oeste norte-americano.

Isso por si só já seria o suficiente para atrair o leitor. Agora, acrescente um mistério. No caso dois: um assassinato múltiplo, que inclui alguns medalhões da casa, e o vazamento de depoimentos de todos que se consultavam no local para Lois Lane, no Planeta Diário. Quer mais? Os suspeitos são a Arlequina e o Gladiador Dourado, mas algo na história deles simplesmente não bate.

Tudo é mostrado por um time de artistas que inclui Clay Mann, Travis Moore, Lee Weeks, Mitch Gerards, Jorge Fornés, Tomeu Morey e Arif Pianto e reunido em um encadernado de capa dura e 240 páginas, que indexa as 9 edições originais que também saíram em formato segmentado pela Panini.

Atropelos narrativos

Mesmo com um plot bem argumentado e arte primorosa, Heróis em Crise traz escolhas narrativas controversas. Logo de início, já somos apresentados ao Santuário como uma cena de crime e essa contextualização do que é o local é feita um pouco às pressas.

Deixar o leitor mais à vontade com o local e com os depoimentos dos heróis – e alguns anti-heróis – que já utilizaram os serviços do Santuário, para explicar em detalhes o que é feito lá, talvez fosse um caminho melhor para dar ainda mais peso ao assassinato.

Porém, King prefere a dinâmica de filmes de mistério, como Entre Facas e Segredos (leia a crítica), para contar os eventos na forma de flashbacks. Mesmo sendo um recurso conhecido, pode levar quem estar lendo a voltar algumas páginas para pegar detalhes que passem despercebidos. 

A presença de uma trama secundária tão importante quanto o crime em si também é algo que enriquece a história, mas complica tudo ao mesmo tempo. Ainda que sirva para puxar um dos textos mais inspirados do gibi, a sensação é de que as consequências do vazamento poderiam ser exploradas melhor.

Vale a pena ler?

Respondendo a pergunta sem rodeios: muito! Ainda que haja uma ou outra escolha controversa ao narrar a trama, Heróis em Crise está longe de ser uma história ruim. A começar pela arte de tirar o fôlego que, por si só, já valeria comprar o encadernado.

Além disso, a química entre personagens como Batgirl e Arlequina e o Gladiador Dourado com o Besouro Azul é valiosa para tirar a obrigação de resolver tudo dos principais nomes da casa, como o Batman, por exemplo.

O texto também é recheado de bons momentos, como o posicionamento do Superman defendendo que o fato de muitos membros da comunidade super-heróica procurarem acompanhamento psicológico não faz deles menos confiáveis ou menos comprometidos com a tarefa de proteger os inocentes.

Assim, Heróis em Crise explora um lado dos personagens da DC que agrada aos leitores mais maduros e que poderia muito bem se transformar em uma série regular, que se aprofundasse mais para abordar as vulnerabilidades dos campeões da justiça.

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