Com Ryan Reynolds (Deadpool) liderando grande elenco – que esteve presente na CCXP 2019 –, Esquadrão 6 era uma estreia bastante aguardada na Netflix. E é justamente esse hype que pode ser o grande revés do filme dirigido por Michael Bay (Transformers). O filme, que chegou ao streaming em 13 de dezembro, é uma montanha russa de muitos altos e baixos, que varia entre sequências de ação épicas e narrativa confusa, com idas e vindas que podem acabar confundindo o espectador.
Na trama, Reynolds é um bilionário que fez fortuna com a tecnologia de eletro-imãs. Ele testemunhou uma tragédia no Turgistão, país governado pelo inescrupuloso ditador Rovach Alimov (Lior Raz, de Fauda), que faz ataques periódicos com gás venenoso contra seu próprio povo para manter a população em medo constante. Mesmo com as atrocidades frequentes, o chefe de estado parece sempre intocável por forças de manutenção da paz, como a ONU.
É então que Reynolds decide destituir Alimov na base da força e substituí-lo por seu irmão Murat (Payman Maadi, de A Separação), mantido em cárcere privado conta de seus ideais democráticos. Para isso, o bilionário forja a sua própria morte em um acidente de avião e recruta um time de pessoas extremamente hábeis. Todos identificados apenas por números: a ex-espiã francesa Dois (Mélanie Laurent, de Bastardos Inglórios), o matador mexicano Três (Manuel Garcia-Rulfo, de As Viúvas), o ladrão britânico especialista em parkour Quatro (Ben Hardy, de Bohemian Rhapsody), a médica italiana Cinco (Adria Arjona, de Círculo de Fogo: a Revolta) e o motorista Seis (David Franco, de Truque de Mestre).
Mais tarde, chega a vez do atirador de elite Sete (Corey Hawkins, de Infiltrado na Klan) se juntar ao bando por motivos explicados logo no comecinho.
Mistureba de estilos
Esquadrão 6 tem uma boa premissa e o roteiro feito por Paul Wernic e Rhett Reese – mesma dupla que escreveu os dois filmes do Deadpool – é competente. Entretanto, a impressão que temos em pouco mais de duas horas é que Bay está realmente perdido na direção. As explosões e destruições de veículos e de cenários, características do cineasta, estão lá. Mas, a presença de muito sangue e corpos, para fazer valer a classificação etária de 18 anos, força a barra. Não pela violência, mas pela gratuidade do recurso, que oscila entre chocar a audiência ou fazê-la rir, como algumas passagens do game GTA V e sua escatologia nonsense. Falhando em ambas as missões, diga-se de passagem.
Contudo, é possível dizer que um trunfo do filme é a fotografia. Sério! Não são raras as cenas que dariam belos quadros para se pendurar na parede, momentos que também estavam presentes em outras obras do diretor, como A Ilha e os cinco filmes da franquia Transformers. Não é exagero dizer que essas cenas dariam uma ótima HQ, se reproduzidas à altura por artistas talentosos.
O filme não esconde o flerte com os fãs de gibis. Seja pelas capacidades dos operativos que compõem o Esquadrão ou pelo ponto principal que os une: todos os membros são dados oficialmente como mortos para poder agir livremente. Então, não é rara a alusão a fantasmas durante o filme, sendo que um até aparece desenhado na fuselagem de um dos aviões no cemitério de aeronaves que eles utilizam como base. Mas, nada que seja um logotipo para se aproximar uma equipe tática como a Star Force da Capitã Marvel, por exemplo.
Os problemas retratados no Turgistão têm claras inspirações no conflito da Síria, mas a produção não se aprofunda para humanizar muito os habitantes, que estão lá para se manifestar e morrer, como NPCs de um jogo de mundo aberto. E isso faz com que o longa falhe em se posicionar como filme de ação de história própria dentro de um cenário de guerra real, como fizeram clássicos mais pastelão dos anos 1980 e 1990, como Comando Delta e Rambo.
Bons ingredientes e receita sem sabor
A internacionalidade do time – outro recurso das HQs e animações com equipes de heróis – também é mal explorada, impedindo que a origem de cada personagem acrescente mais para a história. No fim, muito das particularidades de cada um ficam suprimidas na maior parte do tempo, claramente guardadas já pensando em uma sequência. Aliás, uma das cenas logo no começo, que vai fazer sentido quando o filme termina, já dá a certeza de que o título foi planejado para virar franquia.
Mas, a grande verdade é que Esquadrão 6 é um apanhado de cenas de ação de tirar o fôlego, que falha em entreter o público, apresentando uma trama cujos eventos parecem estar fora de ordem, a ponto de prejudicar o entendimento. Há o foco exagerado em Reynolds, cujas piadas acabam perdendo a graça no decorrer do filme, já que aqui ele não é o Deadpool. E isso tira a oportunidade do restante do elenco mostrar mais o que sabe fazer.
No fim, Esquadrão 6 é uma produção que, literalmente, atira para todos os lados, porém, parece não acertar nenhum alvo. Nem mesmo para ser lembrado daqui alguns anos com carinho pela nostalgia, como alguns dos quais falamos aí em cima. Ainda assim, não seria de se espantar que a Netflix encomendasse uma sequência. Afinal, o streaming tem essa liberdade de não estar atrelado à bilheteria de um blockbuster. Para o bem e para o mal.