Árduo Amanhã, da escritora Eleanor Davis, traz uma premissa interessante ao imaginar como uma ditadura fascista funcionaria atualmente. Durante os governos autoritários do século XX, a sensação de perigo iminente era constante, mas essas ditaduras não possuíam as tecnologias de vigilância que surgiram pelo século XXI.
É essa ideia que a autora traz à HQ, na qual a tecnologia é usada para tirar a liberdade das pessoas, em vez de propiciar mais autonomia. E como toda ditadura precisa de uma figura central no poder, o “Grande Imperador” da trama é ninguém menos que o criador do Facebook, Mark Zuckerberg.
Cenário opressor
A trama gira em torno da personagem Hannah, uma mulher por volta dos 30 anos, cuidadora de idosos e ativista ferrenha contra a ditadura vigilante do presidente Zuckerberg. Hannah vive com seu cachorrinho e seu marido, o maconheiro Johnny, em um trailer – bem aos moldes do motorhome. O casal está tentando engravidar, enquanto Johnny constrói uma nova casa para a futura família que pretendem formar.
Porém, o mundo onde ambos vivem está longe de ser o ideal para uma criança crescer. Muito graças a ditadura promovida pelo criador do Facebook, fazendo os cidadãos dos Estados Unidos serem constantemente vigiados pelas máquinas. Quem se presta a protestar contra as atitudes do governante sofre repressões e perseguição.
Além do tema político, algumas pautas sociais também são foco na narrativa, tal como as pautas LGBTQIA+ e a perseguição xenofóbica aos imigrantes.
Distopia x realidade
A tecnologia vem se enraizando cada vez mais dentro da vida das pessoas, permitindo a comunicação a distâncias anteriormente consideradas impossíveis. Muito disso se dá pelas redes sociais, que conectam indivíduos e comunidades ao redor de todo o mundo. A parte negativa dessa “hiperconexão” é a consequente vigilância e trâmite de dados pessoais, reduzindo até certo ponto a liberdade individual.
O conceito de sociedade vigilante presente na história, se assemelha com a teoria idealizada por Michel Foucault no livro “Vigiar e Punir“, exemplificada também na obra 1984, de George Orwell. A diferença é que em Árduo Amanhã, a teoria de Foucault é usada de maneira muito pessoal e sentimental, em vez do pragmatismo Orwelliano. Somado a isso, muitos pontos importantes são trazidos à tona de modo mais metafórico e certos aspectos são tão semelhantes ao mundo que está tomando forma diante de nossos olhos – chega até a assustar!
Em Árduo Amanhã, Eleanor Davis explora questões cada vez mais reais na vida contemporânea, ligados a momentos tenebrosos da história humana.
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