Anos após os acontecimentos do filme de 2014, Alemão 2 chega para mostrar ao público que a luta entre policiais e a milícia está longe de acabar. A nova produção da Manequim Filmes acompanha um grupo de policiais que invadem o Complexo do Alemão a fim de capturarem um dos chefes do tráfico, mas acabam presos lá, com o agora ex-chefe do morro, quando seu rival toma conta de tudo e faz toque de recolher para os moradores. Como todo bom filme de ação, os protagonistas se veem enfrentando os mais diversos desafios para saírem vivos do perigo.
Com elenco de peso no cinema nacional, a obra traz como o trio principal Machado (Vladimir Brichta), o líder centrado e inteligente, Freitas (Leandra Leal), uma policial recém chegada que anseia de fato mudar o mundo a partir de seu trabalho, e Ciro (Gabriel Leone), explosivo, agressivo e o clássico estereótipo durão que vimos em produções da mesma esfera cinematográfica.
Ainda há participações de atrizes poderosas, que trazem mais diversidade ao elenco, destacando mulheres negras em papéis fundamentais para o desenrolar da história, como Aline Borges, no papel da delegada Amanda, Mariana Nunes como Mariana, a faxineira presente também no primeiro filme, e a participação especial de Zezé Motta, que vive uma enfermeira moradora do Complexo. Também faz parte do elenco Digão Ribeiro, interpretando Soldado, o chefe do tráfico que é pego pelos policiais.
Lado humano
Como títulos do mesmo gênero, é impossível não comparar a produção com outros que vão no mesmo sentido, tal como “Tropa de Elite” e “Carcereiros – Filme” – este último também do portfólio do diretor -, mas aqui é muito evidente a presença de lutas, não somente contra o crime, mas lutas sociais dentro e fora do longa. Ao decorrer da história vemos a descentralização da imagem do bandido negro, trazendo o vilão principal na forma de um homem branco. Ainda que Soldado, ex-chefe do morro, seja negro, seu fundo é explicado e humanizado na trama – e até mesmo discute com Machado essa ideia da negritude como ponto negativo. Em entrevista, Digão Ribeiro comentou que abraçou a oportunidade para “abrir debates”.
Fora das telas, a diversidade também marcou presença, já que 60% da atividade de produção foi composta por mulheres, e 40% da equipe foi composta por pessoas pretas. Alex Nader, intérprete do policial Pita, comentou que cada personagem tem sua importância, seja para representar, para ser contra-ponto (já que Pita apresenta o policial machista, contrastando com a ideia do poder feminino que o filme mostra). “Houve um cuidado minucioso com as falas, para que mesmo que a aparição do personagem fosse rápida, ela fosse importante”, disse Nader.
Capricho técnico
As produções nacionais muitas vezes não recebem tanta atenção quanta as estrangeiras, mas em “Alemão 2” é visível o capricho do diretor José Eduardo Belmonte. Cada cena é construída para trazer tensão do começo ao fim, fazendo o público se angustiar a cada desenrolar dessa tentativa de saída do Complexo. Em cenas que envolvem uma ambientação mais escura, a equipe parece se superar ao trazer efeitos visuais para construir uma melhor iluminação e manter o tom sombrio, como as de tortura do Soldado.
A trilha sonora também caminhou na direção certa, realçando essa tensão e o ritmo frenético de uma cena para outra. Em comparação ao primeiro filme, a continuação aposta um pouco mais no primor técnico, se tornando mais realista. O longa de José Eduardo Belmonte, filmado em 2017, estreia nesta quinta-feira (31), com assuntos sérios misturados em um dos gêneros que mais agrada o público adulto. E aí, bora prestigiar o cinema nacional?
