Y – O Último Homem: holocausto masculino debate realidade das mulheres

Carlos Bazela
Y – O Último Homem: holocausto masculino debate realidade das mulheres

Adaptada dos quadrinhos criados por Brian K. Vaughan e Pia Guerra, Y: O Último Homem é uma das atrações do Star+, serviço de streaming com o conteúdo adulto da Disney. Com os 10 episódios da 1ª temporada já disponíveis, a série conta a história de Yorick Brown (Ben Schnetzer, de Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos) e seu macaco, Ampersand, os únicos sobreviventes de um misterioso evento apocalíptico que causa a morte de todos os seres com o cromossomo Y da face da Terra.

Tendo as razões da sobrevivência da dupla tão desconhecidas quanto os motivos que resultaram na morte dos machos e homens cisgênero do planeta, Yorick e Ampersand podem guardar os segredos para a sobrevivência da humanidade como espécie. Por isso, cabe à Agente 355 (Ashley Romans, de NOS4A2) cuidar para que eles consigam chegar vivos e, de preferência incógnitos, a um laboratório escolhido pela controversa geneticista Allison Mann (Diana Bang, de Away).

Para completar, Yorick ainda é filho da congressista Jennifer Brown (Diane Lane, de O Homem de Aço), que, como se não bastasse o stress de protegê-lo, ainda precisa encontrar a filha Hero (Olivia Thirlby, de Dredd: O Juiz do Apocalipse) e tentar manter os EUA em pé, uma vez que, com os homens mortos, ela se torna a mais próxima na linha de sucessão para a presidência.

Mundo em caos

A estética de Y ainda é um prato cheio para quem curte produções pós-apocalíticas, como The Walking Dead (também no catálogo do streaming). A presença de grupos com limites morais discutíveis, que alegam que justificam suas ações em nome da sobrevivência é uma semelhança constante com o seriado da AMC. Assim como a escassez de recursos. Afinal, sem homens cis, muitas áreas de trabalho essenciais ficaram desguarnecidas, deixando de joelhos desde serviços de transporte, indo do metrô à aviação, passando pelo abastecimento de água e luz.

Outro ponto onde O Último Homem incomoda é na presença excessiva de cadáveres nos ambientes. Afinal, quando uma crise desse porte acontece, se torna mais urgente se preocupar com quem está vivo do que pensar no funeral daqueles que se foram. Ainda que as causas sejam desconhecidas.

Reflexo da realidade

Embora traga o caminho de Yorick e sua protetora como foco, a obra tem tramas paralelas interessantes, como o próprio drama político da presidente Jennifer e ainda reserva espaço para debater temas atuais, como o conservadorismo patriarcal, personificado nas opiniões de Kimberly Campbel (Amber Tamblyn, de House), filha do presidente falecido e que bate de frente com o progressismo de Jennifer o tempo todo.

A violência domestica, vista no núcleo das Amazonas, e a forte presença dos homens transgênero, como Sam Jordan (Elliot Fletcher, de Os Foster), amigo de Hero, também são outros assuntos que Y – O Último Homem traz para debate com naturalidade, mas o peso e o respeito que exigem.

Aliás, esse espelho da realidade é o que deixa o fim do mundo retratado em Y ainda mais assustador. Os acontecimentos da série são embasados por estatísticas reais. As mulheres são minoria na política e, de acordo com a ONU, em matéria publicada pela Agência Brasil, elas representam apenas 25% dos profissionais nas áreas de tecnologia, engenharia, ciências da computação e matemática, por exemplo. Sem falar nas que acabam impedidas de seguir carreiras consideradas masculinas, como a construção civil.

Assim, Y – O Último Homem é um convite não só a rever o que se pensa ser papel da mulher na sociedade, mas um chamado urgente para lidarmos com questões como o machismo e suas consequências graves, como o feminicídio. Afinal, não é difícil encontrar em cada capítulo mulheres confortáveis com todos os transtornos causados pelo evento, desde que não tenham mais que lidar com situações de assédio e violência.

Next Post

Encanto: filme irá celebrar maravilhas culturais da Colômbia

Nova animação da Walt Disney, Encanto estreia em 25 de novembro nos cinemas brasileiros, abordando e se aprofundando na cultura colombiana. Em preparativo para a chegada do filme, participamos de um bate-papo com a designer de produção Lorelay Bové, o executivo de criação sênior Juan Pablo Reyes Lancaster Jones e […]
Encanto: filme irá celebrar maravilhas culturais da Colômbia