Westworld: 1ª temporada sai do óbvio com boas atuações

Carlos Bazela

Westworld é um parque de diversões ambientado no Velho Oeste americano e habitado por robôs de forma humana, que estão lá para satisfazer os desejos mais selvagens dos visitantes da maneira que for preciso. Tudo minuciosamente controlado por uma equipe de especialistas em uma sala que mais parece um centro de comando da NASA. Dados esses elementos e a quantidade de histórias semelhantes na cultura pop, era possível esperar que cedo ou tarde as máquinas organizariam uma revolta. E a HBO nunca escondeu isso.

Essa estratégia foi a diferença crucial para o sucesso da série. Afinal, ciente de que seu público eventualmente espera pelo motim dos androides, o canal por assinatura resolveu dar o fato como iminente e focar esforços em desenvolver quando e, principalmente, como isso aconteceria.

Dolores é uma das primeiras anfitriãs a questionar sua programação no parque. (Foto: HBO)

Para isso, apostou no talento de um elenco de peso, encabeçado por Evan Rachel Wood (Across the Universe), Thandie Newton (Han Solo: Uma História Star Wars), Jeffrey Right (007 – Cassino Royale), Ed Harris (Apollo 13: Do Desastre ao Triunfo), o brasileiro Rodrigo Santoro (300) e Anthony Hopkins (Dois Papas). Sim, nosso eterno Hanibal Lecter dá vida ao doutor Robert Ford, o criador do parque, que segue trabalhando em suas instalações, mesmo cedendo o controle do local para a corporação Delos.

Wood encarna Dolores Abernathy, a mais antiga anfitriã robô do parque e o principal ponto da narrativa, com o qual os visitantes tem contato logo que chegam em Westworld por meio de um trem – que parece vindo literalmente do nada. Vale dizer, aliás, que antes de entrar no parque, todos devem vestir roupas de época e escolher suas armas. Essas, não têm efeito nenhum em humanos, mas têm consequências reais nos androides, com direito a sangue e expressões reais de terror, dor e desespero pré-programadas.

Rebelião das máquinas

Ao longo de 10 episódios, vemos Dolores explorar o parque ao lado de William (Jimmi Simpson, de Black Mirror) – visitante que acaba se distanciando das linhas narrativas do local – e também ser perseguida pelo misterioso Homem de Preto (Harris), um cowboy cruel que vê prazer em espezinhar os habitantes de Westoworld pelo simples fato deles “não serem reais”. O conceito entre real e artificial, aliás, é colocado em cheque na série, enquanto o trio de protagonistas procura por um misterioso labirinto. Mas será ele apenas uma aventura do parque ou algo mais?

O Homem de Preto se mostra disposto a tudo para desvendar o enigma do parque. (Foto: HBO)

À medida que revela mais detalhes sobre esse mistério, Westworld capricha nas camadas de seus personagens. Afinal, anfitriões convincentes precisam de narrativas densas, com direito a um passado e laços familiares. Isso faz com que algumas passagens dos primeiros episódios pareçam repetitivas, como os ataques à casa de Dolores e ao Mariposa, o bordel comandado por Maeve Millay (Newton) e frequentemente atacado por Hector Escaton (Santoro).

Mas, é justamente nas alterações dessas rotinas que vemos a evolução dos androides e como toda a ilusão de controle dos administradores do parque está prestes a explodir quando as máquinas começam a tomar consciência de quem e do que são.

Casa dos horrores

Westworld ainda arruma tempo para mostrar os jogos de poder e manobras nos bastidores do parque para conseguir o controle do local arquitetados pela chefe de segurança Theresa Cullen (Sidse Babett Knudsen, de Inferno). Afinal, uma tecnologia que permite a robôs interagirem com humanos de todas as formas possíveis e passarem despercebidos interessa a muita gente. Por falar em bastidores, é nas câmaras internas de Westworld que a trama realmente merece aplausos.

Na área de manutenção, podemos ver o talento das atuações, enquanto são feitos testes cognitivos em unidades com defeito e também o trabalho da limpeza desses androides, onde eles são mostrados amontoados e com toda a sorte de ferimentos possíveis causados pelos visitantes. Sempre aguardando para serem limpos, costurados a laser e colocados novamente em seus lugares.

A cada capítulo a série mostra o jogo de poder pelo controle do parque e sua tecnologia. (Foto: HBO)

Aqui é onde ocorre a desumanização deles também. Em Westworld, o elenco de autômatos aparece nu algum momento (ou até vários) para passar a sensação de que o que está ali é tudo, menos uma pessoa, em uma analogia interessante aos horrendos mercados de escravos de antigamente.

Assim, com discussões pertinentes sobre a humanidade e seu futuro, limites éticos e outros temas pesados, Westworld entregou uma primeira temporada que consegue equilibrar com sucesso o uso dos efeitos especiais e diálogos longos e filosóficos – que fazem o espectador ficar “digerindo” um episódio por dias a fio. Deixando o drama da HBO impossível de ser assistida de forma leve e despretensiosa. Ainda bem.

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