The Boys: HQ para quem está de saco cheio de super-heróis

Carlos Bazela

Se super-heróis existissem, provavelmente seriam ovacionados como estrelas de cinema. Porém, o princípio de salvar o mundo ainda estaria lá ou estamos falando de um bando de egocêntricos com poder demais para ameaçar as pessoas do mundo? Se você não tinha feito essa pergunta, fique sabendo que o roteirista Garth Ennis não só fez, como também a respondeu com a controversa The Boys. O escritor irlandês, que tem no currículo histórias do Justiceiro e Preacher, é famoso no mercado por detestar super-heróis. Fama essa que ele tratou de alimentar com esta HQ, publicada no Brasil pela Devir Livraria.

A obra começa como uma história de humor negro, na qual super-heróis são reais e não se importam tanto assim com as outras pessoas. Na verdade, eles estão nessa de salvar o mundo por motivos nada nobres: fama e dinheiro. E é isso que o jovem Hughie acaba descobrindo do pior jeito, após o velocista Trem-A passar por ele e sua namorada em um parque de diversões e, literalmente, espatifar a moça.

Eles têm razão para estarem de saco cheio dos super-heróis! (Foto: Dynamite)

Cego de ódio, Hughie vai atrás do herói apenas para descobrir que ele é mais um dos protegidos pela Vought American, uma empresa que explora os chamados “Supers” para vender sua marca – além de negociar serviços de proteção, claro. É então que ele é recrutado por Billy Carniceiro, um inglês com pinta de ex-militar que logo o apresenta para o restante do grupo, que são: O Francês, Leite Materno e A Fêmea. O plano do quinteto? Colocar os super-heróis na linha usando todo meio necessário. De escutas e espionagem a violência pura e simples.

Não escapa ninguém

A principal equipe da trama é conhecida como Os Sete. Liberada pelo Capitão Pátria, a liga conta com Rainha Maeve, Oceano, Sombra Negra, Jack de Júpiter, Trem-A e a novata Estelar – qualquer semelhança com a equipe da DC Comics não é mera coincidência! Ainda há espaço para os G-Men, grupo de jovens poderosos da escola do Professor Godolkin. Te lembrou alguma coisa? É, a ideia era essa.

Se Ennis não poupa ninguém com seus personagens, Billy Carniceiro também não ao ser taxativo dizendo que os supers são todos “farinha do mesmo saco”. Ficando mais séria, a HQ mostra os dois lados da mesma moeda: Hughie, cujo ódio veio de uma grande perda, e Estelar, uma heroína novata e ingênua que vê nos Sete uma chance real de ajudar pessoas, embora logo perceba que as coisas não são bem assim.

Os mais populares estereótipos de heróis são esculhambados na trama. (Foto: Dynamite)

Em The Boys, ninguém é “normal”. Todos eles tem algum passado ruim, que está ligado aos heróis da Vought de alguma forma e todos tem segredos. Principalmente o Carniceiro, que parece ter outros motivos além da perda da esposa para perseguir Os Sete e derrubar o conglomerado de mídia. O mesmo vale do outro lado, onde não há limites para colocar planos escusos em prática.

Sexo e escracho

The Boys não é só violência, pois, tem altas doses de sexo também. Quando a HQ começa a ficar muito sinistra ao ponto de ficar séria demais, você é surpreendido por alguma bizarrice sexual. Seja pela compulsão do personagem Tecnoman, apresentado mais adiante, por qualquer buraco que ele veja pela frente ou o prostíbulo onde os G-Men comemoram suas vitórias em batalhas.

Mas o melhor momento nesse sentido é o Herogasm. Em The Boys, toda vez que os supers anunciam para a mídia que irão partir em alguma missão interplanetária para ficar semanas fora, a realidade é que eles estão indo ao Herogasm. O evento realizado em uma ilha é onde a comunidade superpoderosa vai para fazer todo o tipo de sexo e usar toda droga possível e concebível.

Por trás da fama, Os Sete escondem grandes escândalos sexuais. (Foto: Dynamite)

O evento acaba se tornando uma das passagens mais memoráveis da série. Mas, mesmo em seus momentos sérios, The Boys é interessante, bem escrita e com ótimos desenhos. Um espelho distorcido que faz todo o sentido se você parar para pensar na possibilidade de superseres realmente existirem. Principalmente em tempos como esses, onde os heróis – mesmo fictícios – estão ainda mais presentes no nosso dia a dia por conta da cultura pop.

Então, se ficar de saco cheio dos quadrinhos de super-heróis, leia The Boys. Você vai ver que eles também estão.

A saga também ganhou uma versão em live-action, na série disponível no serviço Amazon Prime Video.

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