Suzume: a nova obra-prima de Makoto Shinkai

Sally Borges

Suzume chegou ao catálogo da Netflix neste mês e nos trouxe de volta para o encanto dos animes primorosos de Makoto Shinkai. Lançado há um ano nos cinemas brasileiros, o filme resgata a narrativa mais usada do autor, ou seja, a união de sinceros sentimentos em meio às adversidades, apresenta um relato imerso em desastres naturais históricos do Japão e leva o espectador a visuais arrebatadores.

A história e os terremotos

Ao longo de 2 horas e 2 minutos, Shinkai nos une à história de Suzume, uma estudante que vive em Miyazaki, na costa leste da ilha de Kyushu. Criada pela tia após a morte da mãe em um terremoto, a jovem, a caminho do colégio, conhece Souta, um viajante que está em busca das ruínas da cidade.

A protagonista se deixa levar por sua curiosidade e descobre uma porta misteriosa, que abre passagem a uma premissa fantástica com um novo mundo e criaturas mágicas. Logo, ela se dá conta que libertou um totem e, consequentemente, os chamados Vermes, que são a causa dos temíveis terremotos nipônicos.

A partir daí, Suzume e Souta seguem juntos em busca de outros portais, a fim de combaterem o mal que causa os tremores, e se aventuram em uma jornada de autoconhecimento, ensinamentos de outros personagens e um amor juvenil. Tudo isso em meio a lugares reais de um país assolado pelas catástrofes.

A lenda, o luto e o adeus

Assim que o anime foi lançado no Brasil, Shinkai concedeu entrevista ao site Omelete e falou sobre a sua inspiração nas mitologias japonesas, precisamente em Namazu, uma criatura folclórica associada às desgraças e aos desastres.

“Há muito tempo, os japoneses acreditavam que tinham um grande Namazu (peixe-gato) debaixo da terra que causava terremotos ao mexer o seu corpo. Os Vermes de Suzume tiveram inspiração nesse Namazu. A minhoca representa uma energia da Terra que não pode ser controlada por humanos e os próprios terremotos”, explicou.

Diante desse contexto, Shinkai conseguiu honrar a memória dos japoneses, citando no anime o Grande sismo de Kanto, em setembro de 1923, que ocasionou a morte de cerca de 145 mil cidadãos e deixou por volta de 2 milhões de feridos; e o Grande Terremoto no Leste do país, em março de 2011, que vitimou quase 20 mil pessoas.

Em comunicado oficial, o diretor ainda falou da metáfora por trás do anime: a necessidade de dizer adeus, seja pelo luto ou por qualquer circunstância da vida. “Precisamos prensar em como fechar as muitas portas que deixamos abertas em nossas vidas. É minha esperança sincera que esse filme faça o público sair dos cinemas com um sorriso largo”, declarou. E Shinkai conquistou o feito.

A trilha sonora e a essência de Shinkai

Responsável por obras como Your Name e O Tempo com Você, o autor não retornou apenas com seus visuais extraordinários, muitas vezes dos céus de cores vivas, e seus enredos atuais, incluindo o clima ou a passagem do tempo, mas impressionou – mais uma vez! – os apreciadores com suas características e jeito ímpar de fazer animes, e impactou as bilheterias ao redor do mundo.

Indicado a Melhor Filme de Animação do Globo de Ouro 2023, Suzume ainda prende quem assiste com sua trilha sonora chiclete, que inclui clássicos da música japonesa, como a animada “Lipstick Message / Rouge No Dengon”, de Yumi Arai – também ouvida em O Serviço de Entregas da Kiki –, e a música-tema de RADWIMPS com Toaka, que se apresentaram recentemente em São Paulo.

Não é à toa que Shinkai é um dos maiores animadores da atualidade. Além do show à parte de cada cena, Suzume se inclui naturalmente a um dos melhores filmes do ramo, que, agora, poderá ser apreciado por cada assinante da Netflix.

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