Ruptura: mundo corporativo como cruel distopia

Ruptura: mundo corporativo como cruel distopia
Apple TV+

Desde que adentramos o mercado de trabalho nos é dito para saber separar o pessoal do profissional. Ruptura, série do Apple TV+, critica essa mentalidade corporativa com a metáfora de uma lobotomia. Criada por Dan Erickson, a atração dirigida por Ben Stiller conquistou dois Primetime Emmys com sua 1ª temporada. Abaixo, confira o review:

Seria surreal, mas familiar

O seriado acompanha Mark (Adam Scott) em sua chegada à cidade de Kier. Ele inicia jornada na Lumon Industries, em um departamento em que os colaboradores passaram com uma cirurgia de implante de um chip no cérebro. Esse procedimento é questionado pela sociedade, mas (em teoria) apenas voluntários podem passar por isso. A tecnologia impede que um funcionário se lembre de sua vida particular ao entrar na empresa. Ou seja, é como se uma pessoa fosse criada apenas para o trabalho.

Na premissa de “Ruptura”, Mark aceitou trabalhar nessas condições para aliviar a dor da perda de sua esposa. Contudo, ao longo da trama, se estabelece um clima de suspense e dúvida sobre a moralidade da Lumon. Afinal, se uma companhia pode mexer com a mente das pessoas, a quais limites ela respeitaria se pudesse aumentar seus lucros?

A vida além do logoff

A construção visual da Lumon é um destaque. Tons esverdeados ou cinzentos parecem neutralizar a passagem do tempo. Não há janelas para que o céu seja visto, e o relógio na parede dá os únicos indícios de que as horas passam. Este cenário faz com que os personagens, mesmo com o cérebro reiniciado, se questionem quanto às suas decisões. A perda da identidade é ressaltada quando Mark e os outros imaginam que tipo de vida levam lá fora e o quão bela pode ser cada opção.

É neste ponto que “Ruptura” se torna um thriller de ficção cientifica. Isso porque não é possível simplesmente pedir demissão. A Lumon trabalha com penalizações, burocracia e a força do organograma para decidir o que fazer com seus recursos humanos. Dessa forma, os personagens precisam fazer com que cada versão sua (dentro e fora da corporação) trabalhe em cooperação para entender o que acontece e como fugir das garras da empregadora.

Mesmo brincando com o dia a dia de uma empresa, o seriado conquistou a audiência por alertar sobre o que o trabalho não pode se tornar. A segunda temporada está em produção, de acordo com comunicado recebido do streaming.

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