Raised by Wolves: extremos da humanidade no “estilo Alien”

Carlos Bazela
Raised by Wolves traz extremos da humanidade no estilo Alien

Confirmada para o streaming desde o lançamento do HBO Max, Raised by Wolves, série produzida por Ridley Scott tem voado abaixo do radar no quesito hype. Na história, acompanhamos Mãe (Amanda Collin, de Departamento Q: Uma Conspiração de Fé) e Pai (Abubakar Salim, de 24 Horas: Viva um Novo Dia), dois androides incubidos da missão de terminar os estágios finais de desenvolvimento e criar seis embriões humanos no planeta Kepler 33b.

Contudo, 12 anos depois da chegada do casal, apenas um deles, Campion (Winta mcGrath, de Marcas do Passado) ainda está vivo, uma vez que seus irmãos pereceram por motivos variados, que vão de doenças até acidentes.

O garoto é um dos últimos remanescentes da raça humana, quase dizimada após uma guerra religiosa tornar o planeta inabitável. Agora, criá-lo e educá-lo é o principal desafio do casal de autômatos.

A guerra pela fé (e pela ausência dela)

Mostrado em flashbacks, o conflito teve, de um lado, os mitraicas, que veneram o Sol com fanatismo e têm toda a tecnologia a seu favor. Do outro, os ateus, com menos recursos e a selvageria de suas técnicas de guerrilha.

As crianças levadas por Mãe e Pai ao novo mundo devem receber educação ateia. Porém, uma arca com famílias selecionadas de mitraicas também está a caminho de Kepler 22b com o mesmo motivo: um novo começo. Assim, ainda que ambos os lados tenham a promessa de deixar o conflito a anos-luz de distância, o atrito parece inevitável a partir do momento que o grupo maior percebe que há ateus no local.

Entretanto, a guerra importada de um mundo morto é só uma das preocupações dos colonos, pois o novo lar da humanidade e os próprios androides são bem mais do que aparentam.

Novo mundo, velhos problemas

Raised by Wolves coloca tudo que faz de nós, seres humanos, em perspectiva, enquanto retrata com maestria as dificuldades de se criar uma criança. Seja a preocupação em dar os exemplos corretos, o ensino da não violência e até que ponto a sobrevivência e o pacifismo são capazes de coexistir sem problemas.

A fé e a cegueira causada pelo fanatismo são colocadas em xeque. E, ao mesmo tempo em que questiona o fato de se impor uma crença religiosa aos jovens, a série não levanta bandeiras ou mostra o ateísmo como salvação da humanidade. Uma vez que o outro lado aparece retratado com extrema brutalidade.

O melhor de Alien

Desde seu movimentado primeiro capítulo, é impossível não ver elementos da franquia Alien, também criação de Ridley Scott, em Raised by Wolves. Desde a natureza orgânica dos androides, com seus fluidos brancos e órgãos sintéticos, até o local inóspito com suas criaturas locais e resquícios de civilizações antigas, como nos recentes Prometheus (2012) e Alien: Covenant (2017).

O clima de tensão, a luta pela sobrevivência e a presença de mulheres fortes, como a jovem Tempest (Jordan Loughran, de Emerald City), a médica Sue Drusus (Niamh Algar, de Infiltrado) e a própria Mãe são herança dos longas da criatura de sangue ácido.

Espere o inesperado

Raised by Wolves se destaca pela capacidade de surpreender o espectador. Seja com ótimas escolhas e outras mais questionáveis, é difícil antecipar os próximos rumos da série. E isso se conserva até  último episódio dessa temporada, cujo final é impactante o suficiente para fazer qualquer um que esteja vendo contar os dias até a estreia do próximo ano. Ou seja, até 3 de fevereiro!

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