Passageiro Acidental: drama da Netflix é melhor na cabeça do espectador

Carlos Bazela
Passageiro Acidental: drama da Netflix é melhor na cabeça do espectador

Michael Adams (Shamier Anderson, de Goliath) está em uma situação peculiar, para dizer o mínimo. Ele acordou ferido e desorientado em um lugar estranho: a nave SMT, que está adiantada no caminho para sua missão de 2 anos no planeta Marte. Essa é a história central de Passageiro Acidental (Stowaway, Alemanha/EUA, 2021), drama original da Netflix já disponível no streaming. O título é dirigido por Joe Penna, que também assina o roteiro ao lado de Ryan Morrison, repetindo a parceria do filme Arctic.

Entretanto, a presença de Michael na nave acaba sendo um perigo para os três astronautas que estão lá para iniciar os primeiros passos da colônia humana no planeta vermelho: a comandante Marina Barnett (Toni Collette, de Hereditário), a médica Zoe Levenson (Anna Kendrick, de “A Saga Crepúsculo”) e o biólogo David Kim (Daniel Dae Kim, de Lost).

Não bastasse a missão não ter sido projetada para quatro pessoas, a SMT ainda está avariada. O local de onde Adams cai acaba avariando uma unidade importante da nave e comprometendo o estoque de oxigênio do local. Enquanto o drama prossegue, o grupo tenta encontrar soluções paliativas para sustentar a vida de todos até chegar em Marte e aproveitar a estrutura que foi enviada anteriormente para pensar os próximos passos. Contudo, o destino do passageiro acidental parece selado.

Muitos caminhos e poucas jornadas

Com um plot envolvente, Passageiro Acidental mostra diversos caminhos para ser, se não memorável, um bom filme. Pena não seguir nenhum deles. Mesmo com potencial para um suspense instigante e claustrofóbico, dado o ambiente fechado da nave espacial, ou um drama de qualidade, favorecido por boas atuações, o longa perde todas as oportunidades possíveis.

Uma delas está no desenvolvimento de Adams, que poderia ter se tornado um forte antagonista, caso ele decidisse que, mesmo estando no lugar errado e na hora errada, lutaria pela sua sobrevivência. Algo que seria respaldado pela forte ligação com a irmã Ava, que ficou na Terra sem saber de sua partida.

Outra chance que o longa deixa passar é a de apresentar um conflito mais acentuado e trabalhado por mais tempo entre Zoe e David, uma vez que ambos tinham opiniões diferentes – e bem embasadas – para o destino do clandestino involuntário. O fato de o personagem em questão ser um homem negro ainda poderia abrir espaço para debates de cunho racial.

Final repentino

Porém, nada disso é debatido. Até mesmo a sucessão de infortúnios que acomete os tripulantes da SMT, ainda que batidas para o gênero de filmes espaciais, poderiam prender a atenção do espectador por bons momentos. Ainda mais ao ver um elenco com capacidade para entregar mais.

Com um final que parece chegar cedo demais, o filme deixa muitos fatos para a suposição do espectador. Nada contra um desfecho controverso, mas o corte abrupto dá a impressão de obra inacabada, que caberia bem como episódio final de temporada de série.

Aliás, nem mesmo os argumentos propostos ao longo da obra se desenvolvem. Diversas promessas do que viria a seguir não são cumpridas, o que dá a impressão de que Passageiro Acidental seria um título muito melhor se fosse editado pelos palpites formulados na cabeça de quem está assistindo.

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