Último título da extinta 20th Century Fox a explorar os mutantes da Marvel – pois os estúdios foram comprados Disney –, o filme Os Novos Mutantes finalmente chegou ao Brasil, com exibições nos cinemas desde o dia 22 de outubro. Com lançamento problemático, o longa passou por diversos adiamentos e refilmagens antes mesmo dos atrasos decorrentes da pandemia do novo coronavírus, que demandou o fechamento das salas de exibições.
Dirigida por Josh Boone (A Culpa é das Estrelas), a obra ganha as telas sem vínculos com o Universo Cinematográfico Marvel, isolando-se em uma experiência que mira o terror e tem como seus protagonistas alguns dos personagens das histórias em quadrinhos de Chris Claremont e Bob McLeod. Assim, mesmo despretensiosa, a produção exibe potencial ao abordar questões como culpa e repressão, temas fiéis às raízes dos gibis dos X-Men.
Quem é quem
A narrativa, que tem roteiro de Boone e Knate Lee (O Sequestro), apresenta o público ao dia a dia do Hospital Milbury, em Boston, que recebe jovens mutantes que supostamente representam risco à sociedade, com a premissa de que irá ajudá-los a entender e dominar suas habilidades. Essa instituição é comandada pela também mutante Dra. Cecilia Reyes (Alice Braga, de A Rainha do Sul). É neste lugar sinistro que encontramos o grupo de protagonistas.
Miragem nos gibis, Dani Moonstar (Blu Hunt, de The Originals) é a última sobrevivente de uma comunidade indígena, enquanto Rahne Sinclair (Maisie Williams, de Game of Thrones) – a Lupina – se apega na religião para aprisionar sua natureza como lobisomem e Illyana Rasputin (Anya Taylor-Joy, de Fragmentado), a Magia, usa má atitude para esconder os traumas da infância. Completam a equipe Sam Guthrie (Charlie Heaton, de Stranger Things), de codinome Míssil, e o brasileiro Roberto da Costa (Henry Zaga, de Gatunas), vulgo Mancha Solar.
Aos poucos, os adolescentes percebem que as intenções de Reyes não são tão benevolentes quanto ela afirma. O que os motiva a unirem forças, superando suas muitas diferenças, para poderem escapar.
A soma de todos os medos
Como se já não bastasse o fato de estarem enclausurados contra sua vontade, os jovens começam a ser visitados pela materialização de seus maiores medos desde a chegada de Dani Moonstar. E assim o filme explora as dificuldades de se crescer em mundo altamente repressivo, que insiste em sempre dizer qual o seu lugar e o que você pode ou não fazer.
Rahne, por exemplo, se encontra oprimida demais para manifestar sua homossexualidade em público, lembrando de sua criação na doutrina regiliosa. Sam e Roberto não se perdoam por terem causado acidentes com suas habilidades. E a instalação liderada por Reyes se aproveita para encurralá-los em suas fraquezas para os manter sob controle.
Neste cenário, os meninos acabam se identificando uns com os outros, encontrando aceitação para suas peculiaridades e apoio para enfrentar um sistema opressivo, como toda boa história dos mutantes. Porém, com isso, a carga dramática, acentuada por boas atuações de especialmente de Joy e Heaton, termina se sobrepondo à proposta original de terror.
E a sensação que fica é que Os Novos Mutantes, mesmo com suas limitações, não decepciona. Afinal, os personagens cativam e todas as mensagens são válidas para tempos como estes.