Os Fabelmans: carta de amor de Spielberg ao cinema

Os Fabelmans: carta de amor de Spielberg ao cinema

Em 1999, Steven Spielberg disse que pensava em dirigir um filme sobre sua infância. Com o título I’ll Be Home, o projeto foi escrito por sua irmã Anne Spielberg. “Meu grande medo é que minha mãe e meu pai não gostem e pensem que é um insulto e não compartilhem meu ponto de vista amoroso e crítico sobre como foi crescer com eles”, disse. Já em 2002, Spielberg declarou que estava nervoso: “É tão perto da minha vida e tão perto da minha família – eu prefiro fazer filmes que são mais análogos”.

“Mas uma história literal sobre minha família vou precisar ter muita coragem. Ainda acho que faço filmes pessoais, mesmo que pareçam grandes filmes comerciais de pipoca”, prosseguiu ele. Vinte anos depois, o cineasta tomou coragem e “I’ll Be Home” se tornou Os Fabelmans, distribuído pela Universal Pictures (seu primeiro com o estúdio desde Munique). A produção também marca a primeira vez que Spielberg atua como roteirista desde A.I. – Inteligência Artificial (2012), assumindo a função em parceria com Tony Kushner (dramaturgo ganhador do Prêmio Pulitzer) – que colaborou escrevendo o enredo da cinebiografia Lincoln (2012).

O longa estreou no Festival de Toronto no ano passado e foi bem tanto pela crítica quanto pelo público. Conquistou nada menos que cinco indicações ao Globo de Ouro 2023 e, no Rotten Tomatoes, tem impressionantes 91%, o que já mostra que temos um possível novo clássico do diretor.

Filmes são sonhos que você nunca esquece

“Os Fabelmans” conta a história de Sammy Fabelman (vivido por Mateo Zoryan e Gabriel LaBelle), o alter ego de Steven Spielberg, que vê sua vida através das lentes das câmeras de cinema e passa, por sua paixão pela sétima arte, a registrar tudo em filme. A produção passa por várias etapas da vida de Steven, sendo bastante fiel às experiências do cineasta. Mas, o longa também possui muitas liberdades poéticas, romantiza alguns pontos e cria outros para criar essa grande fábula em torno de seu personagem principal.

Como todo o material promocional faz questão de destacar, é essa dinâmica entre Sammy com seus pais e irmãos em que o roteiro se apoia. De início, há o encantamento do garoto pela grande tela e os conflitos dos próprios pais em relação a isso.

Michelle Williams (Venom) e Paul Dano (Batman) vivem os pais de Sammy e são peças centrais nessas memórias de Spielberg. De um lado, a mãe incentiva o filho a mergulhar no mundo das artes e seguir seu sonho. Do outro, o pai desacredita da paixão do garoto e passa a pressioná-lo para não abrir mão de seu futuro por causa de um hobby – um dilema no qual muita gente vai se reconhecer. Dano e Williams vivem os pais que centralizam a tensão de toda a trama e se mostram peça fundamental na construção do protagonista e sua relação com o cinema.

Se a ausência do pai é um motivo presente em muitos filmes de Spielberg, principalmente até o início dos anos 2000, aqui o pai é muito presente. Não à toa, Paul Dano é bastante desafiado e corresponde, ao contrário de Michelle Williams e Seth Rogen (Steve Jobs) que chegam a ser caricatos em alguns momentos.

Quando o adolescente Sam cria cenas de efeitos especiais para o tiroteio de seu pequeno faroeste inspirado em “O Homem que Matou o Facínora”, que John Ford realizou em 1962, somos levados imediatamente ao Spielberg mais aventureiro, da série Indiana Jones. Acostumado a nos apresentar grandes histórias, Steven Spielberg nos conduz a sua própria pela telona.

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