Durante a Bienal do Livro Rio 2025, o mangaká japonês Nagabe nos concedeu entrevista exclusiva e comentou sobre sua obra A Menina do Outro Lado, publicada no Brasil pela DarkSide Books. “Não pensei em falar sobre problemas sociais”, disse o autor, ao explicar que a narrativa se baseia na lógica dos contos de fadas. “Se você faz algo bom, algo bom acontece. Se faz algo ruim, algo ruim acontece.”
Segundo Nagabe, a história foi construída em torno da conexão entre seres diferentes. “Não é exatamente uma crítica social, mas algo que nasce da relação entre personagens que não se parecem”, afirmou. Essa abordagem, segundo ele, permite que o público projete interpretações pessoais, mesmo que o ponto de partida não tenha sido esse.
A estética de suas obras também foi tema da conversa. “Gosto muito do preto e branco como forma de expressão”, explicou. Entre suas influências visuais, citou os trabalhos de Tove Jansson, criadora de Moomin, e Edouard Goury. “O preto e branco permite criar personagens que às vezes são só silhuetas, ou parecem feitos de ossos e criaturas do mar.”
O uso recorrente de personagens não humanos ou com traços de monstros também foi abordado. “Quis criar algo que não fosse um animal completo, mas que misturasse várias espécies. Assim, os leitores não identificam de forma imediata e podem se envolver de outro jeito”, disse.
Sobre os temas de aceitação e preconceito presentes em A Menina do Outro Lado, Nagabe afirmou que projetou em Shiva, a protagonista, um ideal de comportamento. “Ela não trata ninguém de forma diferente por causa da aparência. Isso é algo que pode ser captado na história.”
Ao ser questionado sobre conselhos para jovens autores brasileiros, Nagabe incentivou a criação independente. “O importante é apresentar suas próprias ideias”, disse. Para ele, publicar em redes sociais é um passo inicial essencial. “Crie, publique e continue publicando. Isso ajuda a construir sua carreira.”
Encerrando a entrevista, o autor comentou suas referências atuais. “Tenho assistido a animações que estão sendo publicadas online, como The Amazing Digital Circus, e gosto muito das animações indianas”, relatou, destacando seu interesse pela arte mais independente.