Madre Pânico traz culto às celebridades ao universo da DC

Carlos Bazela

Milhões investidos em recursos e treinamento, um uniforme especial para sair à noite lutando por justiça, residência em Gotham City. Essa descrição cabe como uma luva para o Batman e seus associados, mas estou falando da Madre Pânico, a nova justiceira da cidade, cuja aventura de estreia já foi publicada no Brasil pela Panini em dois volumes.

Madre Pânico é Violet Paige, uma jovem mulher que passou por uma sequência de eventos traumáticos quando criança. Entre eles, a doença da mãe, seu envolvimento com a morte de seu pai, o desprezo por parte de seu irmão mais velho e, principalmente, o período no qual viveu no Lar União.

Madre Pânico em trecho em novo quadrinho da DC
Sem se esconder, Madre Pânico aposta num uniforme assustador e chamativo. (Foto: DC)

Na instituição, um aparente colégio interno regido por freiras, Violet recebeu treinamento e sofreu lavagem cerebral para se tornar uma assassina. Claro que ela foge, recupera sua individualidade e resolve usar seu dinheiro para se tornar uma justiceira, que vai caçar todos os envolvidos pelos horrores que passou na instituição.

E, se o tema parece batido, vale dizer que a forma contemporânea como Gerard Way, Jody Houser, Tommy Lee Edwards e Shawn Crystal contam essa história, utilizando o universo das celebridades como ponto de partida, é que torna Madre Pânico interessante.

Anti-Batman

É quase seguro dizer que Violet Paige é uma “anti-Batman”. Enquanto Bruce Wayne treinou técnicas de infiltração para ser quase invisível na noite, a Madre Pânico parece não estar nem aí para isso. A começar por seu uniforme branco com uma assustadora máscara que hora aparenta um chapéu de freira, hora uma cabeça de morcego. Tudo isso enquanto cruza os céus de Gotham montada em uma espécie de moto voadora.

Aliás, “nem aí” é a expressão que melhor define Paige. Figura carimbada dos tabloides e arroz de festa na alta sociedade gothamita, a moça usa a fama para desviar as suspeitas de seus afazeres. Contudo, enquanto Wayne ainda posa como filantropo, a garota aproveita a pouca idade para levantar polêmica, deixando vazar notícias sobre envolvimento com drogas e fazendo aparições bombásticas em talk shows.

Em dado momento, o leitor chega até a se questionar se o fato da história explorar a bissexualidade da personagem é uma forma de mostrar a diversidade da HQ – o que é ótimo – ou só outra forma genial de dizer que Violet foi construída pensando em cada detalhe que faria dela alguém polêmico em tempos de influenciadores digitais e nos quais pessoas parecem viver eternamente de uma herança infindável, sem ter que trabalhar.

Animais jovens

Para quem reconheceu o nome de Gerard Way, trata-se do vocalista da banda My Chemical Romance, que também é co-criador de Umbrella Academy, HQ que acabou virando a ótima série da Netflix. Way ainda é curador e um dos roteiristas do selo Young Animal, que voltou a ser explorado pela DC no ano passado.

Idealizado para contar histórias “fora da caixa” com foco em emoções, como ansiedade, este selo sempre procura trazer mitologias completamente novas para a editora, como The Colapser e usou universos pré-estabelecidos da Casa para inserir caras novas, caso de Madre Pânico e da Lanterna Verde Sojourner “Jo” Mullein, a protagonista de Setor Distante. Isso sem falar na repaginada que o selo deu nas histórias da Patrulha do Destino.

Violet Paige, a Madre Pânico, relaxa no sofá
Violet Paige circula pela alta sociedade de Gotham em uma vida regada a excessos e polêmicas. (Foto: DC)

A verdade é que o selo utiliza uma abordagem bem parecida com o que Marvel Max fez há alguns anos, introduzindo a detetive e ex-super-heroína Jessica Jones, como se ela sempre tivesse feito parte da Marvel. Mas, o selo Young Animal tem um ponto a mais a seu favor: a independência.

Afinal, mesmo que Violet Paige partilhe muitos pontos em comum com Bruce Wayne e a Madre Pânico acabe cruzando eventualmente com um ou outro habitante local, como a Batwoman e o próprio Batman, a conclusão a qual chegamos depois de ler os dois volumes é que os heróis nem precisariam estar ali para legitimar a personagem.

Trata-se de uma anti-heroína, que tem tudo para emplacar com um universo próprio e histórias de tom mais pesado do que vemos normalmente com os vigilantes de Gotham. E o mais importante: traz algo de realmente novo à DC Comics em muito tempo.

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