Kamen Rider: mangá é presente para a geração tokusatsu

Carlos Bazela
Kamen Rider: mangá é presente para a geração tokusatsu

Kamen Rider é praticamente uma instituição no Japão. Aqui no Brasil, o herói gafanhoto se tornou popular com as séries Kamen Rider Black e Kamen Rider Black RX, exibidas na década de 1990 pela extinta TV Manchete, a casa dos tokusatsu no país.

Se você lembra dessa fase da TV, então a leitura do mangá Kamen Rider, obra em 3 volumes – todos já disponíveis –, que marca a estreia do selo Xogum, da editora NewPOP, é praticamente obrigatória. A história acompanha o primeiro personagem criado por Shotaro Ishinomori, que acabaria gerando toda uma dinastia de motociclistas combatentes do mal e sua luta para impedir que o Japão e o mundo se submetam ao poder da organização maligna Shocker.

Na trama, o motociclista Takeshi Hongo é raptado pelos vilões, após um acidente de moto, para ser submetido a uma cirurgia que o transformou em um ciborgue. Escolhido por suas aptidões físicas e intelectuais, o rapaz recebe o auxílio de um antigo professor da universidade para fugir antes que seu cérebro fosse condicionado ao domínio da Shocker. Agora, com a “segunda pele” (como ele mesmo se refere no mangá) e habilidades semelhantes às de um gafanhoto, ele jura empregar sua fortuna para dar um fim nas maquinações da Shocker como o Kamen Rider.

As aventuras do herói, que sempre encontra monstros inspirados em animais criados pela Shocker, trazem muita ação e alguns elementos de horror, assim como mensagens sobre o poder das grandes corporações, defesa da natureza e até críticas ao governo japonês. Assim, mesmo com a organização concentrando todo o mal, como é comum nos tokusatsu, os seus meios para agir acabam criando um contexto verossímil que, mesmo nos dias de hoje, é atual.

Gafanhoto em dose dupla

Em dado momento, Takeshi Hongo é substituído por outro Kamen Rider: Hayato Ichimonji. O passo é ousado e dá outro rumo para história. Afinal, ainda que ambos partilhem a vontade de fazer o que é certo e de acabar com a Shocker, Ichimonji é um personagem bem diferente e um pouco menos trágico, por assim dizer, do que Hongo. Isso ajuda a criar uma identificação rápida com o leitor.

A substituição é reflexo de um acontecimento na adaptação do mangá para a TV, que corria em paralelo com ele. No meio da série, Hiroshi Fujioka, que interpretava Takeshi Hongo, sofreu um grave acidente de moto e precisou se afastar das gravações. Nisso, foi substituído por Takeshi Sasaki, que se tornou outro personagem, que é justamente o repórter Ichimonji.

Mas, se na TV a coisa foi feita às pressas dado o acontecido, no mangá, Ishimonori conseguiu amarrar melhor a chegada do Kamen Rider 2 e fez disso um acerto narrativo.

Clássico japonês

Ler Kamen Rider é uma viagem no tempo. Com um formato de 15×21 cm que privilegia a arte de Shotaro Ishinomori, o tamanho dos volumes foi um acerto por parte da NewPOP. Assim, podemos ver o traço simples e ao mesmo tempo detalhado do autor, que flerta com o cartum em diversas passagens, mostrando como os mangás lembravam mais os comics na década de 1970.

Nas personagens femininas, ainda é possível ver semelhanças com o traço de Osamu Tezuka, mostrando influência de obras como A Princesa e o Cavaleiro, que saiu no Japão na metade da década de 1950.

A melhor parte é que a história de Hongo e Ichimonji é tão atemporal que pode (e merece!) ser recontada de tempos em tempos, como aconteceu no filme Kamen Rider: The First (2005) e será feito novamente em 2023 no longa Shin Kamen Rider, atualmente em produção e dirigido por Hideaki Anno, que é ninguém menos do que o criador da franquia Evangelion.

Polêmica no Brasil

O terceiro e último volume brasileiro do mangá de Kamen Rider ainda acabou levantando uma polêmica que ninguém esperava. Em uma passagem, na qual há uma crítica ao governo, apoiadores do presidente do Brasil enxergaram que a tradução foi uma maneira de atacar o governo federal vigente.

Por mais sem nexo que a crítica seja, foi esclarecido – antes da situação se tornar ainda maior – que a fala está dentro do contexto da história e não tem nada de crítica à política brasileira. Episódio que serviu para gerar alguns risos para quem viu. Ora de nervoso, ora de vergonha pela magnitude que uma fake news pode tomar, mesmo que absurda.

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