Quando o Homem-Aranha foi criado, há 60 anos, o editor-chefe de Stan Lee duvidou, de início. que um adolescente comum pudesse ser um herói. Durante uma cerimônia de graduação dada pelo criador do herói para formandos da Universidade da Califórnia, Lee contou um pouco sobre como surgiu a ideia para a criação do personagem e como ele não desistiu do personagem.
O Homem-Aranha era diferente dos heróis daquela época, como o Capitão América, Thor e tantos outros. Afinal, eles apareciam extremamente fortes, justos e perfeitos. Eles não tinham problemas, pelo menos não iguais às pessoas comuns.
Assim, como um adolescente poderia combater o crime e ainda se preocupar em não furar o encontro com a namorada? Que herói se preocupa se vai ter dinheiro para pagar o aluguel no fim do mês? E, além do mais, qual deles têm aranha no nome? “Essa ideia nunca daria certo”, foi o que disseram os companheiros da Marvel de Stan na época.
Gente como a gente
No entanto, são justamente esses pontos, presentes na vida de qualquer jovem, que fazem de Peter Parker tão importante para a cultura pop. Longe de um multimilionário de armadura ou de um cientista que duplica de tamanho, pela primeira vez, os leitores se viram em um gibi. Aquele herói poderia ser qualquer pessoa. As mesmas dificuldades de todos os dias de gente como a gente estavam lá, desenhadas na vida daquele rapaz extraordinário que, vez ou outra, salvava Nova York.
São sentimentos que, ao longo desses 60 anos, ainda aparecem bem resumidos nas palavras de May Parker, a amada tia de Peter, no filme Homem-Aranha 2 (2004). “Todo mundo ama um herói, as pessoas fazem fila para vê-los e gritar seus nomes, para daqui uns anos contar como ficaram horas na chuva só para ver de relance aquele que as ensinou a continuar acreditando”.
Por coincidência – ou não – acreditar foi uma das coisas que o Homem-Aranha me ensinou. Sempre, todos os dias e, principalmente, quando algo não dá certo no trabalho, em alguma prova ou surge um problema na vida pessoal, penso: Peter Parker não desistiria, por que então eu deveria?
Memória afetiva
A lembrança mais antiga que tenho na vida é justamente de assistir ao primeiro filme do Homem-Aranha (2002) no cinema, com apenas 2 anos de idade (acredite se quiser). E de lá pra cá, só me apaixonei mais por aquele herói estranho, tão sofrido, porém tão bondoso. E, conforme cresci, esse sentimento só aumentou e guiou minhas ações. Aqui no início da vida adulta, ainda me vejo perguntando “o que o Homem-Aranha faria?” quando aparece um dilema.
Mas, isso é só às vezes. A grande verdade é que, quando a maioria das dúvidas surge, já sei que preciso ir pelo caminho mais honesto, mesmo que traga algum pesar e, antes de pensar em mim, pensar naqueles que amo e nos que mais precisam de ajuda – foi o que o Homem-Aranha me ensinou. Melhor: foi o que Peter Parker me ensinou e que vem ensinando a muito mais pessoas desde aquele agosto de 1962. Assim como nos anos que virão a seguir.