O que cidades perdidas, lendas urbanas, locais assombrados e outros mistérios que permeiam culturas ao redor do mundo têm em comum? As histórias por trás de cada um deles. São esses mitos fantásticos que despertam a curiosidade e originam excelentes narrativas. O primeiro lançamento do novo estúdio francês Yellow Brick Games consegue fazer isso muito bem. Eu diria que o grande destaque de Eternal Strands não está apenas em seus elementos de RPG, nas combinações de magias ou nos épicos gigantes, mas sim na construção de mundo.
Para explorar melhor esse universo, a Yellow Brick Games gentilmente cedeu uma chave de Eternal Strands para a equipe do Boletim Nerd. Agradecemos ao estúdio e desejamos uma excelente leitura a todos os tecelões!
Entrando no Enclave
Antes de mais nada, Eternal Strands é um RPG de ação no qual controlamos Brynn, uma jovem tecelã que faz parte de um grupo de personagens carismáticos. Nesse mundo, aqueles que conseguem manipular magia são chamados de tecelões, e o jogo explora esse conceito de forma profunda: toda magia vem da “tapeçaria”, enquanto encantadores precisam desfiar “fios” de inimigos colossais para extrair seus poderes.
A jornada começa quando Brynn e sua equipe, sem querer, atravessam as barreiras mágicas do Enclave, uma cidade-estado devastada há décadas e isolada do resto do mundo por um véu mágico. Essa barreira, no entanto, gerou concentrações tóxicas de magia em toda a região próxima, conhecida como Baía de Mayda. O evento causou instabilidade política, guerras e mortes, além de levar o mundo a condenar a magia e os tecelões.
Desde então, o Enclave se tornou um lugar misterioso e cobiçado por aqueles que conhecem sua verdadeira história.

Eternal Strands é um prato cheio para quem gosta de narrativas envolventes e mundos ricos em detalhes, ou mesmo para aqueles que não resistem a explorar cada colecionável e fragmento de lore.
Magias elementais que recompensam criatividade
Mas não pense que a qualidade do jogo se resume apenas à sua história. As magias elementais de gelo e fogo são um dos principais atrativos de Eternal Strands, funcionando de forma dinâmica e reagindo à termofísica do jogo.
Por exemplo, magias de gelo podem congelar estruturas dependendo do clima, do material e da intensidade do feitiço. O mesmo vale para magias de fogo, que podem provocar incêndios e se alastrar pelo cenário dependendo das condições ao redor. Além disso, esses feitiços são essenciais para coletar recursos, seja de monstros ou do ambiente. Alguns minérios e pelagens de criaturas, por exemplo, só podem ser extraídos sob temperaturas específicas.
Já as habilidades cinéticas, como telecinese e explosões gravitacionais, ampliam ainda mais o arsenal mágico de Brynn. Todas essas magias podem ser combinadas para criar estratégias poderosas, tornando o combate altamente criativo.
A física do jogo reforça essa dinâmica. Quer derrubar um dragão do céu? Congele uma de suas asas, e ele despencará!
Os desenvolvedores enfatizaram bastante esse sistema, garantindo que física e termodinâmica sejam o coração do gameplay. Além disso, a mecânica de escalada é essencial tanto para a exploração quanto para o combate contra gigantes.
Brynn também pode utilizar um pequeno conjunto de armas — como espada e escudo, montante e arco —, mas o foco principal está nas magias, tornando o combate um espetáculo de feitiços e efeitos visuais.

Enfrentando gigantes
Todas essas mecânicas culminam nos embates épicos contra os Epic, colossos espalhados pelo Enclave. Cada um desses gigantes possui pontos fracos específicos, exigindo que os jogadores estudem seus padrões e usem a magia com inteligência.
Não basta simplesmente atacar: é preciso acertar pontos vitais para desfiar seus fios e absorver novos poderes. Isso pode levar tempo, mas a escalada desses colossos é uma parte fundamental da experiência, criando momentos dignos de Shadow of the Colossus.
A física da escalada, no geral, é bem implementada, embora ainda haja bugs ocasionais. Não se assuste se, de vez em quando, for arremessado pelo mapa sem explicação — felizmente, esses problemas parecem ser raros e isolados.
Nosso time de tecelões
Agora dentro da misteriosa cidade, Brynn se junta a um grupo formado por Dahm (encantador), Sola (ferreira), Sev (assistente de ferreiro), Casmyn (carregadora), Laen (arquivista) e Ória (líder). Juntos, eles precisam entender o que realmente aconteceu no Enclave.
A exploração é um dos pilares do jogo. Como Ponta, uma exploradora oficial, Brynn deve vasculhar ruínas, coletar recursos, enfrentar inimigos e desafiar os Epic.

O ciclo de gameplay gira em torno de conversar com os companheiros, completar missões, coletar materiais e melhorar a base. As interações com os membros do grupo evoluem ao longo da campanha, revelando suas histórias e até desbloqueando missões secundárias e romances — lembrando bastante o sistema de diálogos visto em Hades.
Os retratos dos personagens são muito bem desenhados, embora destoem um pouco do restante do estilo visual do jogo.
O peso da história
A Yellow Brick Games fez um excelente trabalho ao construir o lore de Eternal Strands. Desde a fundação do Enclave até seus aspectos políticos, econômicos, culturais e religiosos, tudo é apresentado por meio de colecionáveis, diálogos e cenários.
Sabemos desde o início que os Enraizados, habitantes originais do Enclave, estavam anos à frente das outras cidades-estado da Baía, graças ao uso abundante da magia. Além disso, engenharia e arquitetura são aspectos fundamentais no jogo: cada estrutura e mecanismo tem um propósito, funcionando como engrenagens que impulsionam a narrativa.
Problemas no Enclave
Apesar de suas qualidades, Eternal Strands apresenta alguns problemas.
Um dos pontos negativos está na mobilidade: demora muito para desbloquear opções de deslocamento mais ágeis. O jogo se beneficiaria de recursos como montarias ou paraquedas, tornando a exploração menos exaustiva.
Outro aspecto frustrante é a impossibilidade de trocar armaduras fora da base. Como o jogo exige adaptação ao clima e às condições do ambiente, seria mais lógico permitir a troca de equipamentos em qualquer lugar.
O sistema de crafting também apresenta limitações. Assim como em muitos outros jogos, coletamos uma quantidade enorme de recursos, mas a maioria acaba sendo subutilizada. O jogo poderia incluir mais opções além de armaduras, como poções com efeitos variados ou itens de mobilidade.

Veredito: Eternal Strands é bom?
Eternal Strands entrega um mundo rico e fascinante, com um sistema mágico que recompensa a criatividade do jogador. Sua história é envolvente, seus sistemas de física e termodinâmica são impressionantes, e os embates contra gigantes garantem momentos épicos.
Ainda há problemas a serem ajustados, especialmente na mobilidade e no crafting, mas o jogo é uma excelente estreia para um novo estúdio. Fiquem de olho na Yellow Brick Games!
Se você gosta de exploração, combate mágico e mundos densos em narrativa, Eternal Strands promete ser uma aventura memorável.
Pontos positivos
- Física e termofísica com fogo e gelo que recompensam criatividade;
- Excelente narrativa e construção de mundo;
- Batalhas contra gigantes épicas e que exigem estratégias;
- Bom elenco de personagens com tramas que evoluem ao longo do jogo.
Pontos negativos
- Faltam opções de mobilidade;
- Crafting não muito útil;
- Opções de combate demoram para aparecer;
- Escolha limitada de equipamentos.
Detalhes
- Onde jogamos: Xbox Series S
- Tempo de jogo: 38h21
- Versão analisada: v1.0.12
- Gamertag: Cavalheiro#1502
*Chave fornecida pela Yellow Brick Games