A Guerra Fria ainda é um celeiro de histórias no cinema, principalmente nas películas de espionagem. Entretanto, a falta de abertura dos países comandados pela Rússia, que compunham a extinta União Soviética, também são um ótimo pano de fundo para histórias de ficção científica.
É o que acontece em Divinity, HQ da Valiant Comics, editora norte-americana que chegou a ter seus títulos publicados no Brasil pela Jambô Editora, entre 2015 e 2017. Nessa história, seguimos a trajetória de Abram Adams, abandonado na porta do ministro de relações exteriores russo enquanto era apenas um bebê, no inverno de 1941.
Sem família, Abrams se torna propriedade do Estado e passa por diversos testes físicos e mentais para fazer parte de um programa supersecreto do governo: se tornar um cosmonauta. Como estamos falando do auge da corrida espacial e da própria propaganda do comunismo, o fato deveria ser amplamente divulgado, certo? Não é bem isso que acontece.
Adams vai ao espaço em segredo, em uma missão prevista para durar décadas, entre períodos desperto e congelado em sono criogênico. O objetivo? Ir até o limite do universo e voltar, uma façanha que ele realiza com sucesso. Contudo, ao retornar Abram Adams não é mais ele mesmo. E nem a Terra. Décadas se passaram no planeta e quando o cosmonauta aterrissa no deserto australiano, está além de um homem normal, capaz de ler pensamentos e alterar a realidade.
Ele agora é uma divindade.
Medo e fascínio
Um dos melhores pontos do roteiro escrito por Matt Kindt é mostrar todas as reações que a chegada de Abram Adams na Terra acaba causando. Governos enviam tropas para capturá-lo e até exterminá-lo, mas existem seguidores prontos para dar a vida defendendo seu novo deus.
Sobra então para a Unidade, superequipe de heróis formada por XO Manowar, Ninjak, Livewire e Guerreiro Eterno para avaliar e neutralizar a ameaça, só que falar é mais fácil do que fazer. E isso pode demorar mais do que eles imaginavam ao pousar no local.
Embora tenha momentos bastante clichês de grupos heroicos, Divinity encanta pela narrativa, que propositalmente nos confunde com o deslocamento de tempo e espaço e nos detalhes nas entrelinhas, assim como explora o interessante contraste de um homem afro-americano vivendo do outro lado da cortina de ferro.
Desenhada por Trevor Hairsine, com cores de David Baron e arte-final de Ryan Winn, Divinity é um belo quadrinho com história fechada, que explica as origens dos poderes de Abrams e suas motivações para voltar à Terra, embora deixe um gancho para possível continuação. Além disso, a obra se faz um excelente ponto de partida para as histórias dos personagens da Unidade e do melhor do universo Valiant em sua curta passagem por aqui.
Ficha técnica
Editora: Jambô Editora
Autores: Matt Kindt (roteiro), Trevor Hairsine, (desenhos), e Jordie Bellaire, David Baron (cores) e Ryan Winn (arte-final).
Capa: cartonada
Lombada: quadrada
Páginas: 118
Formato: 27 x 18,5 cm
Lançamento: junho/ 2017