Veja a cena: em uma movimentada delegacia do Brooklyn, Nova York, todos os policiais se reúnem e entregam um capacete de skatista para um dos detetives. O desafio? Escorregar por todo o saguão usando as meias até o elevador antes do capitão chegar para o trabalho. A sequência, feita em slow motion, termina com as portas do elevador se abrindo, com o oficial lá dentro, claro, e voltando a se fechar. As portas abrem novamente, o capitão sai com seu costumeiro ar sisudo e, inesperadamente, levanta o braço do detetive pedindo aplausos.
Esse é um dos muitos momentos divertidíssimos de Brooklyn Nine-Nine, série exibida no Brasil pelo Warner Channel, que está atualmente em sua sétima temporada, mas que pode ser conferida desde o início na Netflix. A trama toda começa quando o capitão Raymond Holt (Andre Braugher, de Cidade dos Anjos) é transferido para comandar a Nine-Nine o detetive Jake Peralta (Andy Samberg, de Saturday Night Live) começa a se sentir ameaçado. Afinal, toda a sua rotina de displicências e brincadeiras está ameaçada. Já para a perfeccionista Amy Santiago (Melissa Fumero, de Gossip Girl) essa é a chance de descobrir todo o possível sobre o novo chefe para se destacar na polícia.
Há ainda espaço para a policial pavio curto Rosa Diaz (Stephanie Beatriz, de Bob’s Burgers), a genial secretária de caráter duvidoso Gina Linneti (Chelsea Peretti, de Parks & Recreation), os absurdos dos inúteis Scully (Joel McKinnon Miller, de Big Love) e Hitchcock (o veterano Dirk Blocker, de Poltergeist: O Fenômeno) e as esquisitices de Charles Boyle (Joe Lo Truglio, de Superbad: É Hoje). Tentando – na medida do possível – colocar algum senso de normalidade no recinto junto com o chefe está o sargento Terry Jeffords (Terry Crews, de As Branquelas e Todo Mundo Odeia o Chris).
O clima escrachado da sitcom faz lembrar imediatamente a franquia Loucademia de Polícia. Afinal, o time da 99ª delegacia, de fato, é composto por policiais competentes em resolver crimes. Mas, traz um humor menos perverso e datado, por assim dizer, ainda que exagerado.
Militância na medida
Embora os episódios sejam escritos para privilegiar o pastelão, a forma que Brooklyn Nine-Nine escolhe contar as piadas é o que mais chama a atenção na série. O capitão Holt, por exemplo, é gay e, se há 10 anos esse seria o alvo das chacotas do roteiro no mesmo tipo de show e com um personagem estereotipado, em Nine-Nine temos um chefe de polícia sério, hilário e assumido. Sendo que o último tópico em nada interfere no segundo.
Inclusive, há momentos nos quais, brincando, a série fala bem sério. Como nos episódios nos quais Holt relembra a homofobia na polícia dos anos 1970, quando o departamento de relações públicas mostra a visão dos oficiais pela ótica dos cidadãos nova-iorquinos em cartazes estrelados por Santiago e até corrupção na força, quando um ex-parceiro de Jake planta provas para validar uma prisão.
E ainda sobra espaço para a parte criminal das histórias brilharem, com algumas reviravoltas nos roteiros e finais de temporada com ótimos ganchos para os anos seguintes, como Peralta infiltrado na máfia em um e ele e Holt indo parar no programa de proteção à testemunhas.
No mais, a série é para fazer rolar de rir quem gosta de comédias absurdas, que flertam com o non sense em alguns momentos. E que acerta ao mostrar que o gênero evoluiu na TV, deixando claro que os personagens podem ser engraçados por si só, sem recorrer a recursos como sexo e humilhação de minorias, como se fazia anteriormente.
Brooklyn Nine-Nine é a prova de que o humor não morreu “porque o mundo ficou chato demais”, ele apenas mudou para fazer rir pelos motivos certos, ainda que sejam bastante errados. A série já está renovada para sua oitava temporada.