Uma pitada de caracterizações à Grimm: Contos de Terror, algumas colheradas de modernização de lendas como Percy Jackson e uma dose bastante generosa de influências de American Gods. Se tivéssemos que adivinhar, seria esta a fórmula de Cidade Invisível, nova série nacional lançada pela Netflix, na sexta-feira, 5. No streaming, a produção constrói uma trama de suspense policial na qual os investigados são as principais figuras do folclore brasileiro.
Primeiro projeto em live-action do cineasta Carlos Saldanha (A Era do Gelo), a obra é baseada em uma história escrita por Carolina Munhóz e Raphael Draccon (dupla de O Escolhido). Estabelecida no Rio de Janeiro dos dias atuais, a narrativa acompanha a vida de Eric (Marco Pigossi, de A Força do Querer), agente da polícia ambiental, que acaba obcecada em desvendar os mistérios por trás do assassinato de sua esposa, Gabriela (Julia Konrad, de Malhação).
Investigação e críticas ambientais
Um fato importante é que a morte de Gabriela ocorre numa região de floresta, onde fica a misteriosa Vila Toré – em que alguns habitantes ainda cultivam as crenças e rituais dedicados às lendas da cultura do Brasil. Além disso, o território é disputado por uma empresa, que ameaça o meio ambiente querendo aproveitar a área para a construção de prédios. É justamente neste ponto, entre o misticismo e a conspiração empresarial, que está Eric.
No entanto, para o protagonista, acaba sendo difícil lidar com tudo isso perante seu chefe, o delegado Ivo (Rafael Sieg, de Perrengue), e sua parceira de patrulhas, a policial Marcia (Áurea Maranhão, de Prova de Coragem), tendo sua sanidade mental coloca em xeque. Além disso, esse contato com o sobrenatural impacta a filha de Eric, a pequena Luna (Manuela Dieguez, de Carinha de Anjo), e ainda lhe faz lembrar de um atribulado de legado de família.
Valorizando o folclore nacional
Apesar de citarmos seriados que usam mitologias estrangeiras, a referência mais forte aqui é O Sítio do Pica-Pau Amarelo, de Monteiro Lobato. Claro, com ressalvas e uma pegada mais sombria. Mas é assim que surgem em cena figuras como a bruxa Inês/Cuca (Alessandra Negrini, de Orgulho e Paixão), o malandro carioca Manaus/Boto-Cor-de-Rosa (Victor Sparapane, de Jezabel) e a cantora Camila/Sereia Iara (Jéssica Córes, de Verdades Secretas).
Ainda participam da história o Isac/Saci-Pererê (Wesley Guimarães, de Irmandade), o simpático integrante de uma ocupação na Lapa, o brutamontes Tutu/Caipora (Jimmy London, ex-vocalista do Matanza) e o revoltado Iberê (Fábio Lago, de Tropa de Elite), Curupira disfarçado como morador de rua. Fecha o elenco a lenda do Corpo-Seco.
Veredito
Cidade Invisível funciona bem como narrativa de investigação sobrenatural, surgindo como rara e oportuna homenagem ao folclore brasileiro. À medida que as subtramas sobre meio ambiente a dramas familiares sustentam a tensão enquanto as lendas estão fora de foco. Por fim, vale elogios para a caracterização final do Curupira, com CGI caprichado.
Agora, só nos resta torcer para uma segunda temporada, porque há gancho para isso!