Campus Party faz debates sobre a representação da mulher na cultura pop

Rey, Jessica Jones, Kamala Khan e Lara Croft fortalecem a figura da mulher nos cinemas, televisão, HQs e nos games, respectivamente. Contudo, elas são algumas exceções. Afinal, personagens com a Viúva Negra, da Marvel, e a lutadora Laura, de Street Fighter V, continuam tendo pouco destaque em suas franquias e sendo utilizadas para apelo sexual. Deste modo, a Campus Party Brasil, em sua nona edição, promoveu duas palestras sobre o tratamento e o espaço que as garotas vêm recebendo na cultura pop e nos jogos eletrônicos.

Realizada no palco Entretenimento, a palestra “Cyberbullying e violência contra mulheres na cultura pop e nos games” contou com a publicitária Paola Rodrigues, a defensora pública Ana Rita Souza Prata e a jornalista especializada em games Daniela Rigon. Cientes dos problemas encarados pelas mulheres, elas veem o machismo como algo naturalizado. “Isso [o preconceito] está nas pequenas coisas”, disse Paola, lembrando que esse tipo de conduta pode ser reproduzido sem que os indivíduos percebam, devido à sua incorporação na cultura popular.

Cyberbullying e violência contra mulheres na cultura pop e nos games na Campus Party Brasil 2016
Paola Rodrigues, Ana Rita Souza Prata e Daniela Rigon palestraram no dia 27/01. (Foto: Reprodução/Facebook)

Na internet (games, sites, fóruns e redes sociais), as dificuldades estão na impunidade e no anonimato proporcionados, isto é, tudo o que pessoas preconceituosas precisam. Relatando críticas e xingamentos somente por serem mulheres, as palestrantes pediram que o público seja atuante no combate de ataques machistas. “Isso não tem justificativa”, exclamou Ana Rita.

Enquanto isso, no mundo dos jogos, a forma como a mulher tem sido retratada pode ajudar a educar os(as) gamers e, por consequência, a sociedade. Se, em Street Fighter V, a vestimenta da brasileira Laura é um dos exemplos negativos, a famosa série Tomb Raider registrou mudanças positivas.“Ninguém morreu porque a Lara Croft está mais vestida, e o jogo continua muito bom”, concluiu Daniela, que colabora com o ESPN Games.

rise of the tomb raider
Este é um dos novos figurinos de Lara Croft em Rise of the Tomb Raider.

Na talk seguinte, intitulada “A representação da mulher na cultura pop”, Rebeca Puig, editora do Collant Sem Decote, Gabriela Colicigno, editora do Who’s Geek, Nath Vilya, cofundadora do site Minas Nerds e Luíse Bello, gerente de conteúdo do ThinkOlga e Liga das Heroínas (que luta contra o machismo na publicidade), fizeram análises dos papéis femininos em diferentes mídias, além dos videogames. “Parece absurdo a gente querer consumir quadrinhos e filmes, os homens acham que são só deles”, afirmou Gabriela.

Carentes de heroínas e figuras de destaque, as meninas esperam por personagens melhores, produzidas por mulheres, de preferência. “[O preconceito] é uma coisa que se retroalimenta. Há sempre mulheres que são sensuais, ou frágeis, imbecilizadas na mídia”, falou Luíse, em crítica aos estereótipos. “A gente está olhando e não está se reconhecendo”, completou, tendo em vista a superficialidade com que elas são descritas na cultura pop.

Para diversificar a representação da mulher, o ideal é que apareçam outras personagens nos moldes de Dana Scully (Gillian Anderson), de Arquivo X, e Jessica Jones (“a melhor série baseada em quadrinhos!”, segundo Nath Vilya), isto é, que reivindicam igualdade. “Se a gente não se sentir representada, por que vamos consumir?”, questionou Gabriela. Pensando numa maneira de multiplicar as opções para as fãs, Luíse Bello pede por mais mulheres em espaços de poder, algo que aproximaria os papéis delas da realidade.

Gillian Anderson Dana Scully
Gillian Anderson (a Dana Scully, de Arquivo X) lutou por igualdade entre salários.

Aproveitando o tema central da Campus Party Brasil 2016 – ou seja, “Feel the Future” –, Rebeca Puig faz uma previsão: “O futuro da mulher na cultura pop é estar cada vez mais presente”.

A Campus Party Brasil 2016 acontece de 26 a 31 de janeiro, no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo.

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