As séries baseadas em histórias em quadrinhos são a grande tendência da atualidade, multiplicando-se nas grades de programação da televisão mundial. Estas produções conquistaram tamanha importância que foram tema de debate na Campus Party Brasil 2016 na palestra “Como estão ocorrendo as adaptações da Marvel e da DC nos seriados?”. Participaram do evento, Gabriela Franco, fundadora do coletivo MinasNerds, Fábio Fernandes, professor da PUC-SP, e João Paulo Sette, presidente da SocialComics, fazendo análises das atrações recentes.
“Arrow provoca mixed feelings”, iniciou Fábio, sobre a série lançada em 2012, que ainda não conseguiu retratar o Arqueiro Verde das HQs. Para o acadêmico, que já traduziu Hellblazer, falta a essência do personagem destacada nos gibis da década de 1970, em que Oliver Queen e o Lanterna Verde fazem uma road trip pelos EUA. “Eles param de ser super-heróis galácticos e começam a focar nos problemas sociais, e isso não aconteceu em Arrow”, apontou Fábio.
Ao contrário de Arrow, que exagera nos tons sombrios, The Flash tem agradado aos especialistas. “Flash quebra isso e funciona muito bem”, assegurou Fábio Fernandes, elogiando a inspiração do programa nos gibis dos anos 60 e 70. Considerada “uma das melhores séries adaptadas para TV” por Gabriela Franco, The Flash se relaciona com outros títulos da DC Comics. “[A produção] usa o livre trânsito dele pelas dimensões de maneira espetacular”, declarou ela.

Gotham também é uma adaptação dos quadrinhos, cujo propósito é explorar a cidade antes do surgimento do Batman. “A série tinha que se chamar “Pinguim””, brincou Fábio, devido à interpretação marcante do ator Robin Lord Taylor, como o icônico antagonista”. Assim como nas HQs do Homem-Morcego, os malvados são o principal atrativo do seriado. “Os vilões da DC são melhor desenvolvidos”, afirmou ele.
Embora o grupo acredite que a DC Comics esteja “acertando a mão na TV”, o show estrelado por John Constantine é um exemplo negativo. “Questões legais atrapalharam Constantine”, analisou Gabriela, uma vez que as restrições da televisão aberta norte-americana proibiram menções a cigarros e bebidas alcoólicas, itens inseparáveis do mago inglês.
Já estabelecida nos cinemas, a Marvel inicia seus passos nas telinhas. “Marvel’s Agents of S.H.I.E.L.D. começou fraca, com aquele negócio de monstro da semana”, disse Fábio, sobre os episódios influenciados por Arquivo X. Entretanto, o maior trunfo da empresa é a parceria com a Netflix, que até o momento rendeu Demolidor e Jessica Jones, isto é, seriados que aproveitam a liberdade do serviço de streaming para apresentar histórias mais maduras.

Inspirado na obra de Frank Miller e David Mazzucchelli, Demolidor é bastante fiel às HQs do Homem Sem Medo, impressiona cenas de combate realistas e sua intensidade. “Vi o quadrinho na série do Demolidor”, exclamou a fundadora do MinasNerds. Enquanto isso, além da trama de qualidade, Jessica Jones representa o público feminino – um avanço no gênero regido por homens. “Jessica Jones tem importância magistral para mostrar a questão do abuso”, exaltou Gabriela, sobre o real tema da atração.

No futuro, os especialistas esperam por programas condensados, como ocorre na HBO e Netflix, pois o modelo de 22 capítulos por temporada se tornou cansativo e, por vezes, prejudica as narrativas.