O ano é 2045 e a Terra recebe com frequência visitantes de outros planetas que vêm ao nosso planeta para passar férias. Os alienígenas que chegam precisam ter documentos em ordem passar pela rede de interceptação por satélites e entrar em um rigoroso processo de imigração, feito na Área Global de Exotransferência Controlada, ou Área Cinzenta, que fica no Arizona (EUA). Todo esse procedimento acontece por conta de infelizes experiências anteriores de primeiro contato que aconteceram no planeta.
Os textos dos quadrinhos iniciais que abrem o primeiro volume de Área Cinzenta, encadernado de capa dura publicado aqui pela Mythos já dizem tudo que o leitor precisa saber para mergulhar em uma das melhores que a editora já trouxe para o Brasil.
Na história, criada por Dan Abnett e com arte de Karl Richardson, Lee Carter, Patrick Goddard e Mark Harrison, acompanhamos a rotina de um dos grupos de oficiais da Exotransferência Controlada (ou “ETC“). Afinal, com tantas culturas de tantos planetas diferentes dividindo o mesmo espaço, não é de se espantar que o local seja um barril de pólvora, no qual uma crise diplomática de proporções interplanetárias está prestes a acontecer. Todos os dias.
A equipe da ETC
O time é formado por Birdy, Janzen, Feo, Bulliet e Kymn. Treinados em diversos protocolos de contato e com conhecimento de variadas espécies, cabe à equipe liderada por Janzen manter a ordem no local. E, para isso, utilizam os talentos de Kymn, que é um “saudado”. Ou seja, um dos humanos afetados por um evento ocorrido 25 anos antes chamado “saudação” na qual uma porcentagem dos habitantes foi infectada pela primeira espécie extraterrestre a visitar a Terra com um tecnovírus.
A anomalia, que é transmitida hereditariamente, faz com que uma pessoa aprenda instantaneamente qualquer idioma do universo apenas ao entrar no mesmo ambiente. Logo, Kymn é um dos porta-vozes para abordar os visitantes, ou exos, como são tecnicamente chamados no quadrinho.
Assim, cabe a equipe investigar todo tipo de bizarrice. Coisas que vão desde uma manifestação cultural de uma das espécies que está explodindo cabeças na região por conta do barulho alto até caçar criaturas ferozes cujos ovos, usados como moeda, eclodiram em uma das casas de câmbio da Área Cinzenta e estão deixando um rastro de sangue por onde passam.
Política, religião e preconceito
Área Cinzenta também tira sua cota de páginas para falar sério. O gibi aborda diversas questões sobre preconceito e política, que vão desde o abuso de poder por oficiais xenófobos da ETC até grupos de extrema direita que planejam ataques terroristas no local para que as espécies alienígenas deixem de visitar nosso planeta. Sem se preocupar nas consequências, que podem muito bem ser uma guerra com um mundo mais evoluído que o nosso.
A existência de aliens de índole duvidosa, que vêm ao planeta por motivos escusos – como matar humanos –, acaba inflamando ainda mais estes grupos e colocando até mesmo o leitor em dúvida se as trocas culturais com os seres das estrelas valem a pena.
Compostos por histórias curtas, os dois volumes de Área Cinzenta têm uma dinâmica narrativa semelhante a de um seriado de TV, que poderia facilmente ser um spin-off de Star Trek. O formato é herança de sua publicação original, o mix britânico de histórias em quadrinhos chamado 2000 AD – de onde também veio o famoso Juiz Dredd. Entretanto, isso não impede que os autores amarrem os contos em histórias maiores, que se estendem pelos dois encadernados
Dessa maneira, mesmo que o formato da HQ permita pausas periódicas entre um capítulo e outro, a trama é tão interessante que o mais provável é que o leitor mantenha os olhos colado nos livros até as páginas finais do último volume. Se tiver mais, Mythos, nós queremos!