A Ilha do Dr. Moreau: HQ dá forma e cor ao horror de H.G. Wells

Carlos Bazela
A Ilha do Dr. Moreau: HQ dá forma e cor ao horror de H.G. Wells

Um dos livros mais cultuados da história pelos fãs de ficção científica, A Ilha do Dr. Moreau ganhou adaptações cinematográficas e foi citado em diversas outras obras da cultura pop. Seja pela visão deturpada da ciência por parte do personagem que dá nome ao título ou até para servir de chacota em desenhos animados, como Freakzoid! e Os Simpsons.

Em 2019, foi a vez de Ted Adams adaptar a história de H.G. Wells para os quadrinhos em uma graphic novel desenhada por Gabriel Rodrígues e com cores de Nelson Dániel. O título, publicado lá fora pela IDW, chegou aqui pela Panini em uma bela edição em capa dura, com direito a extras, como esboços originais e entrevista com os autores.

Na história, temos Ellie Prendick – que substitui o Edward Prendick do livro – como a náufraga que vai parar em uma ilha tropical e acaba sendo salva por Montgomery, um médico que abandonou a profissão. O homem revela estar no local há uma década trabalhando com o Dr. Moreau, um nome que a garota, sendo bióloga, já havia ouvido falar em Londres como o de um respeitável cientista, com estudos promissores no campo de tumores, mas que havia caído em desgraça quando suas horrendas experiências com animais vieram à tona.

A medida que vai conhecendo mais sobre seus anfitriões, Ellie descobre que a ciência de Moreau está muito além das experiências com vivissecção que o fizeram deixar a civilização: por meio de cirurgias, injeções, transfusões de sangue e hipnose, o homem está transformando animais em seres próximos aos humanos, com pensamentos lógicos e até semelhantes em fisionomia.

Contudo, o que mantém as feras na linha mesmo é “A lei” um conjunto de regras que faz com que as criaturas abdiquem de seus instintos e se convençam de que são seres humanos. Quem desrespeita a lei é punido com castigos físicos. Mas, até que ponto a dor pode escravizar animais em conflito sobre o que se tornaram? E como Ellie pode escapar desse pesadelo?

A arte e o horror

Se o roteiro de Adams acerta nas liberdades que tomou em relação à obra original de 1896, incluindo a mudança da protagonista e um pouco do final, a arte de Rodríguez e Dániel é ponto extra para a HQ. Enquanto o livro envolve e assusta o leitor com descrições que provocam sua imaginação, a representação gráfica do clima assustador da história é um choque pela riqueza gráfica, que fica a poucos degraus de se tornar perturbadora.

O único contra do encadernado é que a história é curta. Embora uma boa trama não tenha de ser necessariamente longa, falta ao quadrinho de A Ilha do Dr. Moreau um pouco mais de recheio no último capítulo. Ainda que tenha um final digno, a sensação passada ao chegar nele é de que o gibi tinha algumas páginas coladas e o leitor fica um pouco perdido para compreender como as coisas chegaram no ponto mostrado nos últimos quadros.

Mesmo que não seja difícil ligar com os acontecimentos de uma passagem do meio da história, talvez algumas páginas extras, que nem precisariam ter texto, pudessem deixar mais claro o processo retratado ali, que eliminaria o recurso narrativo simplista de passagem de tempo: o famoso “tanto tempo depois”. Além de ser mais uma ótima oportunidade para conferir mais da arte de Gabriel Rodrígues e Nelson Dániel.

Ficção e realidade

No mais, a HQ de A Ilha do Dr. Moreau é um ótimo entretenimento sobre a ciência e seus limites éticos, como só uma boa obra de ficção científica sabe fazer. Além de um convite para uma reflexão profunda e necessária sobre direitos animais, tema cada vez mais importante para o futuro da Terra e nossa sociedade.

Aliás, trazendo o contexto para os dias atuais, daria até para dizer que a trama de A Ilha do Dr. Moreau é uma propaganda negativa da ciência. Principalmente em tempos de negacionismo e demonização de estudiosos e fake news. Já imaginou o estresse das explicações se passagens da obra acabassem “virando notícia” em algum grupo de WhatsApp?

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