2099: HQs reinventam universo futurista da Marvel ao estilo Black Mirror

Carlos Bazela

É começo dos anos 1990 e a Marvel lança um conceito ousado para a época: 2099. Ao invés de colocar seus personagens frente a frente com versões futuras deles mesmos em alguma aventura com viagem no tempo, um dos maiores clichês dos quadrinhos, a Casa das Ideias resolveu moldar todo um universo no futuro. Sim, com releituras de heróis e vilões consagrados, mas origens totalmente novas e utilizando o que se tinha como previsão para o futuro naquela época.

Com Homem-Aranha 2099 puxando o comboio que trouxe ainda contrapartes dos X-Men, Justiceiro, Doutor Destino, Hulk e Motoqueiro Fantasma, este universo rendeu ótimas histórias e fez bastante sucesso. Isso até decisões editoriais da época acabarem derrubando a qualidade das tramas e cancelamento a linha. No Brasil, esse universo foi condensado em duas revistas regulares, impressas no popular formatinho da editora Abril: X-Men 2099 e Homem-Aranha 2099.

Agora, a Panini traz de volta esse conceito nos encadernados Alpha e Ômega, que reiniciam as sagas dos personagens do futuro em novos contextos. Tudo esculpido por Gerry Duggan, Karla Pacheco, Nick Spencer, Rogê Antônio, Steven Cummings, Viktor Bogdanovic, Chip Zdarsky, Damian Couceiro, Francesco Mobili, Gerardo Sandoval, Jody Houser e Nick Spencer.

À mercê de Destino

O primeiro volume, Alpha, começa com o Doutor Destino fazendo ninguém menos que Uatu, o Vigia, como refém para que ele use sua habilidade para ver o que está acontecendo com o mundo. Logo nas primeiras páginas, já sabemos que o déspota da Latvéria tem algo a ver com atual status quo de 2099, que está mais violento do que nunca.

Esse fato puxa uma cadeia de acontecimentos e, dali em diante, vemos o renascimento de personagens que já existiam nesse mundo compartilhado da Marvel, por outra óptica. Venom, por exemplo, é usado como experiência médica para traumas de queimaduras, enquanto Jake Gallows dá lugar para outro policial do Olho Público, o sistema de segurança privado da época, se tornar o Justiceiro 2099.

Quarteto Fantástico 2099 e Destino 2099, por sua vez, apresentam terror e viradas inteligentes de roteiro. Enquanto o Homem-Aranha 2099 se mostra um dos alicerces desse novo universo, como era antes. Fãs dos personagens antigos vão sentir falta de menções aos X-Men e do Hulk do futuro, que não aparecem nos dois volumes. Porém, suas ausências não prejudicam essa reinterpretação.

Inspiração em Black Mirror

Nos dois volumes, é interessante observar como o conceito de futuro é abordado. Sai um pouco a visão cyberpunk dos anos 1990 e entra um contexto realista e até assustador, como um episódio de Black Mirror. Aliás, os dois encadernados da Panini são um prato cheio para quem curte a série da Netflix.

Ideias como relacionamentos afetivos com inteligências artificiais, drogas psicodélicas e pontuação social como moeda parecem ter sido tirados diretamente do programa e são uma ótima forma de criar identificação com leitores jovens.

Tal qual na série de TV quanto no conceito original das HQs de 2099, a falta de ética das corporações e o colapso da sociedade continuam em voga. E as pessoas aparecem pressionadas a se encaixar nesse mundo novo ou abraçando os preceitos bárbaros de uma seita anti-tecnologia que adora Thor. A pobreza das comunidades sem crédito vivendo no submundo é outro tema da época que volta com força no reboot.

Ômega não é o fim

Alpha e Ômega são uma excelente reinterpretação do futuro da Marvel. E origens como a do Motoqueiro Fantasma ficaram tão boas que poderiam ser inseridas no cânone de 2099 em histórias vindouras. E, sim, a forma como Ômega termina deixa claro que ainda ouviremos falar mais dessa linha temporal.

Ainda bem. De todas as histórias que a Casa poderia trazer de volta, esse arco é um dos que têm mais potencial para abraçar essa nova Marvel multimídia que vimos nascer sob gestão da Disney.

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