Imagine um legado de família sombrio, mas ao mesmo tempo curioso, com pistas que remetem diretamente ao universo do cinema. Com essa premissa interessante, Gabriel Manetti apresenta Zeca e o Mistério dos Irmãos Lumière, publicação do selo de quadrinhos Geektopia, do Grupo Novo Século. Em 160 páginas, o autor desenvolve uma empolgante aventura que serve também como convite ao leitor a se inteirar sobre sétima arte.
A obra acompanha Zeca, garoto que nasceu 28 de dezembro de 2006, 111 anos depois que os irmãos Lumière fizeram a primeira projeção pública da história, no primeiro cinema do mundo: O Éden. Esse século de diferença não tornou a experiência de assistir a um filme menos mágica para o protagonista, que além de colecionar DVDs em casa, também é frequentador rotineiro do cinema de rua mais perto de sua casa. Ou seja, Zeca é gente como a gente.
Porém, numa noite em que seus pais foram jantar fora, Zeca recebe uma caixa misteriosa contendo uma metade da chamada Pedra da Imaginação e a missão de encontrar a outra parte, a qual seu Tio Heitor também partiu para procurar há décadas (sem nunca ter voltado). É claro que existe um outro lado, representado por uma organização que deseja substituir toda a criatividade do mundo pela destruição da guerra. E eles estão à caça de Zeca.
Repertório de encher os olhos
Dos pôsteres de Star Wars no quarto à seleção de filmes do protagonista – que vai de Matrix a Juventude Transviada –, Zeca e o Mistério dos Irmãos Lumière se faz extremamente próximo a cinéfilos de todas as idades, gerando curiosidade sobre figuras como Charles Chaplin e Buster Keaton (mencionados no enredo). Além disso, personagens bem parecidos ao Agente Smith, de Matrix, tornam Zeca o herói escolhido para a saga que promete acabar como trilogia.
É importante ressaltar a arte de Gabriel Sozzi, que dá a cada página um ar cartunesco e inocente capaz de lembrar de As Aventuras de Tintim.
Apelo pessoal
Se você está lendo esta resenha, bom, o gibi poderia muito ser sobre alguém como você. Mas não é. Zeca e o Mistério dos Irmãos Lumière é uma carta de amor ao cinema, bem como um fanservice dos mais completos. Contudo, a obra é sobre Manetti e seu tio, Zé Carlos, a quem não chegou a conhecer, mas fonte da conexão do autor com a sétima arte e sua inspiração para escrever a HQ. O texto no final deste volume é tocante.
Essa ligação pessoal do quadrinista com a narrativa transparece e torna a obra ainda mais rica.