Carismático, solene e sublime: um trio de adjetivos que define muito bem a atuação de Timothée Chalamet em Um Completo Desconhecido. É justo destacar o trabalho de outros atores do novo filme de James Mangold, mas não há como não dar um enorme mérito ao astro do momento. Afinal, interpretar uma das figuras mais emblemáticas e enigmáticas da música não é para qualquer artista.
Violão, gaita e cigarros
Também não é uma produção para qualquer diretor ou um longa para qualquer público. Um jovem ator para um jovem Bob Dylan. Ambientada em uma vibrante Nova York dos anos 1960, a trama acompanha o início da carreira de Robert Allen Zimmerman e a sua ascensão no folk, das apresentações nos animados e pequenos bares aos controversos e grandes palcos.
Entre dedilhados no violão, gaitas que sopram no vento – como a clássica “Blowin’ In The Wind” bem diz – e cigarros fervorosos, o Dylan de Chalamet irradia carisma de uma forma despreocupada, em meio a romances com Sylvie Russo (Elle Fanning) e a eterna parceira de turnê, Joan Baez (Monica Barbaro); e aprendizados com seus mentores do folk, como Pete Seeger (Edward Norton), Johnny Cash (Boyd Holbrook) e Woody Guthrie (Scoot McNairy).

Todas vivas na história da lenda. Uma das figuras-chave na vida de Dylan naquele período foi a sua primeira namorada, que se chamava Suze Rotolo e a quem conheceu aos 17 anos. Baez veio ao mesmo tempo, com sua beleza e voz espetaculares, que perpetuam até hoje. Ambas as atrizes transmitem a verdadeira essência das primeiras mulheres do músico, no entanto, a interpretação fascinante de Barbaro é a que dá mais fôlego ao longa.
Há também um importante olhar em como Seeger, Cash e Guthrie foram enriquecedores na trajetória de Dylan. Enquanto um generoso e visionário Seeger se destaca, a inspiração e a ousadia são deixadas para Guthrie e Cash, respectivamente. Além, claro, de todo o cenário político da época, que desencadeou a maioria de suas provocantes letras e um exército de fãs alucinados por um novo ídolo.
Um Completo Desconhecido
Como o próprio título diz, Um Completo Desconhecido não revela quase nada sobre Dylan como pessoa. E por esse motivo, pode ser árduo assistir ao filme sem saber quem foi o artista, hoje com 83 anos. Contudo, explica como um renomado músico – vezes do contra, vezes adorável – rompeu os frutos de seu talento para seguir o próprio caminho.
E tudo isso com a benção dele mesmo, através de horas e horas de conversas com o diretor, expondo memórias e sentimentos. Mangold, que dirigiu o brilhante Johnny & June, fez Chalamet ficar acima da média, ao revelar um canto e performances tão semelhantes aos de Dylan. O longa, distribuído no Brasil pela 20th Century Studios, chega aos cinemas em 27 de fevereiro. É uma produção notável e digna de oito indicações ao Oscar.