Três anos após o sucesso de Life is Strange, jogo episódico que permitia ao público tomar as decisões pela protagonista, uma sequência foi lançada com a mesma proposta, mas com uma história um tanto quanto diferente.
Em Life is Strange 2, acompanhamos a história de Sean e Daniel, dois irmãos de descendência mexicana de 16 e 9 anos, respectivamente, que moram com o pai em Seattle. Quando um desentendimento na frente de casa faz o pai dos garotos ser baleado por um policial, Sean presencia o irmão mais novo despertando poderes de telecinese, que acabam machucando acidental e fatalmente o policial. Desesperado, o jovem não vê escolha além de pegar o irmão e fugir.
Assumindo o papel de Sean, os jogadores são convidados a tomar todas as suas decisões nesta jornada rumo ao México, terra natal do pai dos garotos. Em cinco episódios, Sean e Daniel tem a chance de se conectarem, explorarem os poderes do pequeno, e interagirem com muitos estranhos ao longo do caminho, sejam eles boas ou más pessoas.
Dentre as principais diferenças com relação ao seu antecessor, Life is Strange 2 tem um ritmo um tanto quanto mais lento, mas isso não é algo negativo. A história dos irmãos Diaz é mais contemplativa, e relativamente mais pessoal, focando nos pequenos momentos e, mais do que isso, nas pequenas decisões.
A relação de Sean e Daniel é, sem dúvidas, o foco principal do jogo, sendo bastante aprofundada no decorrer dos episódios. Um detalhe importante e bastante significante é que as decisões do jogador não só impactam nas ações de Sean, como também na moral de Daniel, visto que seu irmão mais velho se tornou seu único exemplo de vida.
Quanto mais avançado na história, mais os detalhes divergem dentre um Daniel que recebeu exemplos morais, para um que recebeu ensinamentos imorais do irmão. Enquanto o primeiro jogo apresentava apenas duas possibilidades de final, Life is Strange 2 também encerra a trama com duas alternativas, mas as quais tem consequências diferentes de acordo com a moral de Daniel.
Dentre outras palavras, se ao longo da trama Daniel teve bons exemplos, cada uma das duas escolhas finais leva para um caminho; e se teve maus exemplos, as mesmas escolhas levam para um caminho totalmente diferente. Desta forma, diferente do seu antecessor, as escolhas feitas ao longo do jogo realmente têm um impacto no final, fazendo a diferença, algo que deixou a desejar no primeiro.
Contada, em partes, como uma fábula pelo irmão mais velho, a história dos dois irmãos lobos que partem rumo a um novo lar, fugindo dos caçadores, traz uma série de reflexões importantes sobre o mundo – e, ao mesmo tempo, sobre nós mesmos. Enquanto trata da fuga dos protagonistas, aborda racismo e xenofobia com bastante cuidado e empatia, além de outros assuntos relevantes como fé e religião, por exemplo.
A história dos irmãos lobo reflete um mundo quebrado, onde algumas pessoas – crianças – trilham um caminho tortuoso rumo a um novo significado para a palavra “lar”, precisando uivar para se sentirem ouvidas, no claro do raiar ou no escuro da noite. Infelizmente, nem todo mundo tem superpoderes para lidar com seus problemas.
Life is Strange 2 pode não ter o glamour do primeiro jogo, ou uma história que mira no épico apocalíptico, mas certamente traz uma narrativa com muito mais coração, ao mesmo tempo em que dá um sentido maior – e mais importância – às escolhas feitas pelo público ao longo da trama. Além de ser uma bela história sobre amor, é também uma trágica história sobre escolhas e suas consequências.