Um clássico dos quadrinhos e possivelmente uma das melhores histórias da Marvel dos últimos tempos, Guerra Civil (Civil War) promoveu uma revolução no universo dos “Super-heróis Mais Poderosos da Terra”, ao dividir a comunidade de fantasiados devido à uma razão política. Inovadora e muito bem construída, a saga roteirizada por Mark Millar (Kingsman – Serviço Secreto) e com ilustrações de Steve McNiven (Quarteto Fantástico: Jogados aos Lobos) utiliza da inteligência para apresentar uma trama complexa e dar aos leitores a oportunidade de acompanhar os Vingadores lutando entre si.
Publicada de 2006 a 2007 nos EUA (de 2007 a 2008 no Brasil), a série teve seu arco principal dividida em 7 partes, desdobramentos repercutidos na maioria dos títulos mensais da editora e, simultânea e posteriormente, impacto sobre as aventuras solo de heróis como Capitão América (Morre uma Lenda/A Morte do Sonho), Hulk (Planeta Hulk) e Thor (O Renascer dos Deuses). Além disso, a Guerra Civil se estendeu para os quatro volumes especiais, intitulados: Frente de Batalha, Escolha seu Lado, Crimes de Guerra e A Confissão (conforme as edições brasileiras da Panini).
No entanto, antes de a Guerra Civil estourar de fato, 13 eventos (como a Guerra Kree-Skrull, Guerras Secretas, Vingadores: A Queda e Dinastia M, por exemplo) prepararam o caminho para o que estava por vir, algo que pode ser visto no exemplar chamado Rumo à Guerra Civil. Deste modo, recorrendo a acontecimentos espalhados pelo histórico dos quadrinhos da Marvel, não é preciso muito para que a Guerra Civil tenha seu estopim: a explosão de uma escola, num incidente envolvendo os Novos Guerreiros, o vilão Nitro e a gravação de um reality show.
Essa é a deixa para que a Lei de Registro de Super-Humanos seja aprovada, exigindo que todos os uniformizados revelem suas verdadeiras identidades e passem a trabalhar para o governo. Entretanto, apesar de receber o apoio de Tony Stark, o Homem de Ferro, Peter Parker, o Homem-Aranha (que retira sua máscara em público em favor da causa), Reed Richards, o Senhor Fantástico, e Hank Pym, o Jaqueta Amarela, a medida acumula opositores, liderados pelo Capitão América – que defende o anonimato dos heróis e acredita que a política atrapalharia o seu trabalho.
Com isso, os maiores personagens da Marvel (exceto Thor e Hulk) e alguns menos conhecidos (como Golias, Patriota, Hércules, Manto e Adaga) assumem lados opostos (os chamados de “Time Capitão América” e “Time Homem de Ferro”), transformando os Estados Unidos num campo de batalha. Sem vilões ocupando posições de destaque, Guerra Civil inova ao tirar o tradicional duelo de bem versus mal da jogada, trabalhando com o confronto de ideais e até ocasionais rivalidades individuais para chegar ao clímax da história.
Nesse cenário, com o racha entre as equipes dos Vingadores, X-Men e do Quarteto Fantástico, um clima de guerra toma conta dos quadrinhos, com cada grupo apostando operações táticas e espionagem para derrotar o adversário, uma corrida por novos aliados (Pantera Negra e Namor são os mais concorridos) e amigos e familiares se enfrentando pelas opiniões distintas e seus respectivos líderes. Extremamente sério, o arco traz mortes, o “reforço” dos Thunderbolts, uma prisão na Zona Negativa e a participação de um clone do Thor.
O exemplo perfeito do que deve ser uma série de HQs, Guerra Civil esbanja criatividade e argumentos coerentes para fazer deste um dos principais eventos da Marvel no século e algo que a editora editora de gibis tenta repetir até hoje. Por envolver aproximadamente 290 personagens em toda a sua amplitude, discutir política de maneira acessível e colocar o Capitão América e Homem de Ferro num épico acerto de contas, Guerra Civil é uma leitura imprescindível.