Um olhar sobre Only Murders in the Building
Nem toda obra de comédia consegue alcançar tamanha liberdade a ponto de rir de si mesma. Reconhecer os pontos altos e baixos dos personagens, e explorá-los a ponto de levá-los ao absurdo e a chacota, de fato, não é para todas. Tal habilidade demanda confiança no próprio produto, um relevante aprofundamento de seus personagens e, mais do que tudo, despretensão. E estas três qualidades Only Murders in the Building tem de sobra.
Há pouco tempo atrás, foi anunciada uma quinta temporada para a série – que provavelmente também não será a última. Mas, afinal, quantos assassinatos podem acontecer no mesmo prédio? E quantos assassinos tem por aí? Para aqueles que também se preocupam com a possibilidade da série se estender demais e perder a qualidade, bem…
Adaptação
O quinto episódio da temporada, intitulado “Adaptação“, começa seguindo o gancho do anterior, em uma cena inicialmente de tirar o fôlego. O suspense, entretanto, logo se transforma em chacota, dando palco para Molly Shannon brilhar com um timing cômico impecável.
Outro personagem que tem destaque no episódio é o roteirista Marshal, interpretado por Jin Ha. O jovem é um poço de insegurança, trazendo para trama não só o tema de síndrome do impostor, mas também um novo aliado à investigação.
Voltando à comédia, o novo episódio de Only Murders in the Building se utiliza do burlesco para elevar a série a outro nível. No caso, burlesco pode ser definido como algo mais caricato, zombeteiro. Se utiliza a chacota, do exagero da excentricidade em situações comuns para dar vida ao seu bom-humor, que está se tornando cada vez mais característico.
A partir de uma série de diálogos e acontecimentos bizarros, rouba boas risadas dos espectadores e ressalta que comédia é – e sempre foi – seu ponto forte. Mostra, assim, os pontos positivos de não se levar tão a sério.
Mais do que isso, faz uma abordagem crítica aos próprios personagens, utilizando deles para criar seu bom-humor – como qualquer boa obra de comédia. Sabe como elaborar piadas a partir de suas qualidades e defeitos, os mesmos que os tornam tão amados pelos protagonistas.
Dentre alguns principais exemplos, temos Oliver insistindo que estava em boa forma para reencenar o crime, dando vida a uma das sequências mais hilárias da série – com direito a um cameo especial. Ou, então, Charles recriando toda a cena do crime em sua mente, de forma fantasiosa e iludida. E em contrapartida temos Mabel, que serve como mediadora das loucuras de seus amigos para com o público.
Only Murders in the Building, portanto, continua instigando com seu mistério, ao mesmo tempo em que encanta com suas piadas. Com “Adaptação”, o episódio mais hilário da série até agora, prova que tem capacidade e potencial para se tornar cada vez melhor. Talvez mais temporadas não seja uma ideia tão ruim, afinal.