O Regresso de Jaspion é homenagem para cultura tokusatsu no Brasil

Carlos Bazela

Depois de anunciado e adiado brevemente pela Editora JBC, o mangá O Regresso de Jaspion está finalmente disponível. Totalmente feita no Brasil pelo selo Henshin, a obra tem roteiro de Fábio Yabu, ilustrações de Michel Borges, arte-final de Douglas Souza e atualiza o campeão intergaláctico para os dias de hoje, se passando mais de 30 anos depois dele ter deixado a Terra, como foi mostrado no último episódio da série de TV.

Na trama, a bruxa Kilmaza conseguiu se aproveitar da energia negativa gerada pela humanidade para ressurgir e trazer consigo Macgaren e outros inimigos derrotados pelo Jaspion no decorrer dos 46 episódios do tokusatsu original.

Cabe agora a Jaspion, Anri e Miya voltarem ao nosso planeta e se unirem a Boomerman, Joe Tiger, professor Nambara e a um reprogramado Aigaman para impedir que ela tenha êxito em trazer Satan Goss de volta. Tudo isso tendo o apoio do sempre eficaz Gigante Guerreiro Daileon e do Tarzan Galáctico, que é uma versão adulta do bebê nascido nos últimos episódios da série e criado como filho pelo herói no Planeta de Edin.

Se a premissa do mangá parece previsível em um primeiro momento, a melhor parte do livro é que sua execução não é. O roteiro de Yabu tem boas reviravoltas e explora bem os personagens do seriado, aproveitando todo o potencial deles, mas sem deixar de contextualizar muita coisa para os tempos atuais. Um exemplo é o papel de Anri no mangá, mais ativo do que na série e mostrando o que ela pode fazer como androide. Até Miya está mais participativa e aparece, inclusive, pilotando o Gaibin Tank.

Easter Eggs na medida

Embora traga uma explicação plausível para o retorno da quadrilha de Macgaren, o maior acerto da obra é usar a seu favor o fato de ter sido produzido no Brasil. Assim, a história do mangá consegue espaço para homenagear tokusatsus conhecidos do público, como Cybercop e outros metal heroes históricos. Referências que casam bem com a trama, deixando mais complexo o universo do Jaspion e ainda garantem momentos de nostalgia ao leitor.

A parte dos policiais do espaço, aliás, rende a melhor piada de O Regresso de Jaspion, pois o ator Hiroshi Watari, o Boomermam, já encarnou sua cota de heróis de armadura, como Sharivan e Spielvan. Este último chegou até a ser chamado aqui de Jaspion II por causa das semelhanças da armadura.

Com ordem de leitura ocidental no encadernado de capa dura, o mangá traz muitas páginas coloridas, ótimas para se apreciar arte de Michel Borges e Douglas Souza, que cai como uma luva para esse universo. Tanto no traço caprichado dos monstros e das máquinas, como as armaduras de Macgaren, Jaspion e os veículos do herói; quanto na fisionomia dos outros personagens, como a Anri, por exemplo, que lembra a atriz Kiyomi Tsukada.

Para todas as idades

O Regresso de Jaspion traz muito da veia debochada do herói em doses cavalares de humor. E, no começo, você quase acha até um pouco de exagero nas piadas. Mas aí, a história engrena, você se acostuma com a abordagem do personagem e elas se diluem na trama, sem incomodar.

Mas, mesmo com muito humor, o enredo entrega uma mensagem poderosa sobre os tempos atuais, com seus discursos de ódio que fortalecem Kilmaza e seu culto. Os valores de honestidade e bondade, presentes em Jaspion e que eram sempre a “moral da história” de muitos outros tokus, também estão no mangá, transferindo a essência do gênero para o papel.

Por falar em fãs, como se o fato de um mangá inteiro feito no Brasil com uma história original do Jaspion já não fosse fan service o suficiente, as últimas páginas ainda trazem um dossiê completo com histórias de bastidores sobre como a série veio parar aqui, depoimento dos atores, making-of do livro e relatos de como o personagem fez feliz a juventude de tanta gente no nosso país.

Assim, aproveite que a série está disponível na íntegra no Amazon Prime Video e relembre os episódios para aproveitar ainda mais o mangá. Por aqui, nós já aguardamos ansiosos o anúncio de uma continuação.

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