O Legado de Júpiter: política e família dão tom na HQ de Mark Millar

Carlos Bazela

É normal que, em toda grande crise, principalmente econômica, o povo de uma nação anseie por soluções milagrosas. Agora, e se, de fato, existir alguém com o poder, ou melhor, o superpoder para fazer isso acontecer? É com essa ideia que flerta a história de O Legado de Júpiter, minissérie em dois volumes publicada aqui pela Panini e que está prestes a ser adaptada em série pela Netflix.

Na trama, que tem roteiro de Mark Millar, ilustrações de Frank Quitely e cores de Sunny Gho e Pete Doherty, Sheldon Sampson, seu irmão Walter e seus amigos Grace Kennedy e George Hutchence são atraídos para uma misteriosa ilha em 1932. O motivo? Segundo os sonhos de Sheldon, o local será capaz de lhes conferir o poder que eles precisam para trazer os Estados Unidos de volta aos eixos, uma vez que o país está sofrendo os efeitos da queda de Wall Street, em 1929.

E o grupo retorna ao país com superpoderes e codinomes, como Lady Liberdade e Utópico, lutando pela verdade, pela justiça e trancafiando malfeitores, como uma boa equipe de super-heróis. Muitos deles tão poderosos quanto o grupo. Passam-se os anos, chega 2008 e os EUA estão novamente mergulhados em uma crise econômica, que se refletiu na bolsa de valores outra vez.

É então que Walter tem a ideia de utilizar seu intelecto superdesenvolvido para criar um pacote de medidas que não só podem tirar o país da recessão, como erradicar pobreza e desemprego. E, para colocá-lo em prática, ele só tem um obstáculo: o irmão. Ao contrário de Walter, Utópico acredita que os heróis devem servir ao povo e ao governo, sem interferir nas esferas de poder. Mas qual dos dois é o lado certo da história?

Negócios de família

O Legado de Júpiter: política e família dão tom na HQ de Mark Millar

No meio dessa disputa moral, O Legado de Júpiter divide cenário com os dilemas de Chloe e Brandon, filhos de Utópico e Lady Liberdade, e outros jovens heróis que tentam se manter à altura dos atos heroicos dos pais. Mas, a pressão constante somada a uma era de culto às celebridades transforma a nova geração de super-seres em figuras vazias. As baladas intermináveis e o abuso de álcool e drogas dos irmãos faz Utópico se questionar o quanto estava ausente da própria casa enquanto salvava o mundo. E ele não tem nem ideia do quanto o relacionamento conturbado com os filhos pode fazer com que o mundo inteiro perca.

Nessa mistura explosiva de politica, superpoderes e problemas de família mal resolvidos, O Legado de Júpiter entrega uma trama adulta, valorizada pelo traço de Quitely, que traz de volta a experiência de Authority (também de Millar) ao retratar heróis violentos e capazes de atos questionáveis.

Com ótimas surpresas que se revelam ainda no fim do volume um, a HQ instiga no leitor a vontade de ler o próximo sem demora, então nossa dica é adquirir os dois juntos. E, por falar em sensações despertadas, a obra pode trazer uma identificação até incômoda com a realidade. Afinal, se tem algo que a História mostrou mais de uma vez é que líderes políticos que parecem ter uma solução fácil para problemas difíceis podem mergulhar uma nação em algo muito pior que uma crise. Principalmente quando têm poderes ilimitados.

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