Wisborg, 1922
Em 1922, chegou às telas uma obra que se tornaria símbolo do expressionismo alemão. Angulações profundas, sombras marcantes e cenários distorcidos deram vida ao filme que realçava a própria morte: Nosferatu.

Pouco mais de um século depois, Robert Eggers revisita a narrativa vampiresca que um dia esteve nas mãos de F. W. Murnau. O novo filme, homônimo, apresenta com clareza todas as nuances das obras de Eggers. Aqueles que já vivenciaram outros títulos do diretor – como A Bruxa e O Farol – verão claramente seus dedos e sua identidade artística no produto final.
Ao mesmo tempo, o novo Nosferatu se prova uma versão mais moderna comparada ao clássico. Ainda que a história se passe no século XIX, o longa-metragem se baseia nas noções de um horror pós-moderno, focando mais em impactar o psicológico do espectador do que em um mísero show de sustos.
Wisborg, 2024
A história acompanha o corretor de imóveis Thomas Hutter, que viaja para a Transilvânia a fim de vender uma propriedade a um conde misterioso. Enquanto isso, sua esposa Ellen começa a ter visões vívidas e perturbadoras, que demarcam um grande perigo para a vila de Wisborg. A trama vai conquistando a atenção do público aos poucos, perpassando a curiosidade e atingindo o fascínio.

Eggers se utiliza de uma atmosfera pesada, uma trilha sonora impactante e uma montagem arrebatadora para revisitar o expressionismo alemão de maneira excepcional. Ao mesmo tempo, se utiliza de elementos marcantes de Bram Stoker para trazer uma história rica, complexa e fascinante – no melhor estilo Drácula – que revive a lenda do vampiro em um vilão formidável e aterrorizante.
Em meio a um contexto cultural em que quase nada mais se cria – e sim se copia –, Nosferatu é o ápice das reinvenções de narrativa. Prova, dessa forma, o poder de reviver histórias do passado, com olhos do presente. Eggers, portanto, vai além de uma simples ode ao clássico do terror, atingindo o patamar de um clássico instantâneo, que deverá ser lembrado por muitos e muitos anos.