Mostra SP: Nosso Herói, Balthazar e o herói que a internet merece

Foto: Tribeca Festival

Em Nosso Herói, Balthazar, Oscar Boyson cria um retrato ácido e provocativo da juventude contemporânea — aquela que vive e morre pelo anseio de um clique. A trama mergulha de cabeça na cultura que busca desesperadamente por relevância digital, mas o faz com um equilíbrio admirável entre sátira e desconforto. É um filme que ri da geração atual, mas também a expõe de forma crua, mas reflexiva.

Nossos heróis, Martell e Butterfield

No centro da história, Jaeden Martell entrega uma performance impressionante, talvez a melhor de sua carreira. Ele interpreta Balthazar, um jovem que se torna obcecado por massacres escolares e anseia impedir um desses para se tornar um herói – tanto para a internet, quanto para a garota que ele gosta. O mais surpreendente é que ele realmente acredita poder se tornar esse herói – desde que o mundo o esteja assistindo.

Martell traduz em gestos e olhares a ansiedade de quem precisa ser visto para existir, tornando o personagem trágico e cômico ao mesmo tempo. Entre lágrimas falsas e sorrisos pretensiosos, a empatia por ele se torna cada vez mais improvável, conforme se revela quase um sociopata obsessivo, com o único desejo de que clamem seu nome.

Ao seu lado, Asa Butterfield surpreende. Distante dos papéis mais sofisticados de sua filmografia, ele encarna com veracidade um white trash presunçoso e imprevisível. Solomon flerta com a bandeira nazista, objetifica as mulheres ao redor, e se vê como a vítima de suas próprias decisões. Sua brutalidade serve como espelho de uma sociedade que celebra o extremo. Sua presença é um lembrete incômodo de que o grotesco também pode ser popular — e que, nas redes, extremismo muitas vezes é confundido com autenticidade.

Porém, ao mesmo tempo em que Balthazar começa como um clássico mocinho que revela-se como um louco obsessivo, Solomon começa como um monstro extremista cuja humanidade vai se revelando aos poucos. Em outras palavras, ele nada mais é do que uma criança traumatizada, carente, cujas frustrações tomaram conta de si. Com isso, nos faz pensar: será que todo esse ódio vem das mesmas frustrações?

Nosso herói(?), Balthazar

Boyson dirige tudo com um olhar bastante crítico, focando no extremo. O extremo das crenças, dos sentimentos, e das reações. A obra ressalta o contraste entre o banal e o épico, o cotidiano e o espetáculo. O resultado é uma crítica afiada à ânsia de ser visto, de ser amado, de ser um herói – essa necessidade quase que patológica de ser “alguém” na internet.

Nosso Herói, Balthazar é, ao mesmo tempo, um retrato e uma acusação. Mostra uma geração que confunde visibilidade com valor, e faz isso frente ao cinismo, sem ser moralista. É um filme desconfortável, engraçado e assustadoramente verdadeiro. E com Martell e Butterfield em performances tão intensas, fica impossível não se perguntar: o que acontece quando todos querem ser heróis – mas ninguém quer ser humano?

Next Post

Caminhos do Crime: conheça o thriller com Chris Hemsworth

A Sony Pictures divulgou o trailer de Caminhos do Crime (Crime 101), novo filme estrelado por Chris Hemsworth, Halle Berry e Mark Ruffalo. Dirigido por Bart Layton (American Animals), o longa adapta o conto homônimo do escritor Don Winslow, presente na coletânea A Queda, e promete um thriller de ação […]
Caminhos do Crime: conheça o thriller com Chris Hemsworth