Mostra SP: Maria é um espetáculo de cafonice e pretensão

Maria Callas
Foto: Diamond Films

Primeiro ato: a ópera final de Maria Callas

Maria Callas é um dos nomes mais famosos da ópera mundial – se não o mais famoso –, tendo conquistado diversos admiradores ao redor do mundo. Após duas cinebiografias de sucesso, Spencer e Jackie, o diretor Pablo Larraín escolheu Maria, um dos maiores sopranos do século XX, para compor seu mais novo filme.

Seguindo nossa cobertura da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, desta vez falaremos sobre Maria, filme protagonizado por Angelina Jolie. O filme deve estrear na Netflix ainda esse ano.

Maria segue os moldes de seus antecessores, com Larraín contando suas versões de fatos históricos, mas sempre com seu toque pessoal. Larraín optou abordar o tema a partir dos últimos dias de vida da La Callas, conforme ela revisita seu passado para chegar ao fim em paz consigo mesma.

A partir das desilusões e alucinações, o público acompanha a protagonista pelo seu passado. Momentos icônicos e conturbados se intercalam, para tentar, ao mesmo tempo, entreter e apresentar a história da personagem.

Maria Callas
Foto: Diamond Films

Último ato: a ópera arruinada de Larraín

A forma e escolhida para fazer isso, entretanto, não faz jus à grandiosidade de La Callas. No filme, o que move a personagem a revisitar sua história com o espectador é o uso exacerbado de medicamentos fortes. Ao mesmo tempo, o roteiro escolhe transformar o medicamento Mandrax em um personagem, que conversa com a protagonista, tal qual um apresentador de televisão.

Essa escolha narrativa não só é extremamente cafona, como beira a ridicularização de seus últimos dias. Resumir quase toda a trama do filme em alucinações, que permeiam uma conversa com um remédio, é um desserviço ao que representa o nome Maria Callas.

Ao mesmo tempo, a atuação de Jolie também não é o bastante para tornar Maria tudo aquilo o que tinha pretensão de ser. A atriz certamente se esforça demais, prejudicando sua naturalidade para com o papel. Por mais que tenha feito ótimos papéis ao longo de sua carreira, neste filme enxergamos Angelina Jolie atuando como Callas. Ou seja, não nos é permitido enxergar Maria em tela, o que é uma grande pena. Talvez esse seja o problema de colocar uma diva para interpretar outra.

Maria Callas
Foto: Diamond Films

Além disso, os defeitos da personagem são destacados de forma muito mais abundantes do que suas virtudes. Em quase todo o filme, a arrogância e prepotência e a futilidade de Maria gritam na cara do espectador, enquanto a única virtude que ressoa é seu talento musical.

A romantização da relação dela com Aristóteles Onassis também destoa de uma adaptação minimamente digna. Um relacionamento comprovadamente abusivo se transforma em um amor cafona, que perdura mesmo após o tempo, tal qual um romance aguado, mas cheio de açúcar.

Essas decisões artísticas, dentre tantas outras, demonstram o pouco tato que Pablo Larraín teve para adaptar a vida de La Callas. Maria, portanto, é um filme fadado à mesmice, contando sua história de forma tão superficial que nem mesmo Angelina Jolie conseguiu salvá-la. Em mãos inexperientes, o cafona e a pretensão se unem em uma ópera que tinha de tudo para ser épica, mas engasga e definha, em silêncio.

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