Seguindo com nossa cobertura da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, conferimos I Saw The Tv Glow – ainda sem título oficial em português, mas que seria algo como Eu Vi a TV Brilhar. O filme é dirigido por Jane Schoenbrun e estrelado por Justice Smith e Brigette Lundy-Paine.
Os Brilhos
Na trama, acompanhamos Owen (Smith), um adolescente que se torna obcecado por um programa de televisão após o desaparecimento de sua amiga Maddy (Lundy-Paine). Conforme a história se desenrola, o espectador é levado por um espiral de dúvidas e questionamentos, em uma viagem psicodélica onde não se sabe o que é real.

Desta forma, a direção de arte do filme surpreende, com uma mistura deslumbrante de cores e efeitos oitentistas. Os brilhos, os cenários e as texturas se complementam em um produto final cativante, que se transforma em um deleite aos olhos.
As atuações do filme também são um ponto positivo, com Smith e Lundy-Paine dando vida a personagens complexos. Transmitem facilmente suas temores e conflitos internos ao espectador, que se vê em meio a tantas ansiedades conforme a trama se desenrola.
Os Chiados
O roteiro, entretanto, deixa a desejar em alguns aspectos. Por mais que I Saw The TV Glow tenha uma premissa inovadora e uma proposta fascinante, seu texto se perde em uma pretensão exagerada. Também se estende demais, caindo em uma lentidão fria com um rimo monótono, sempre com a ideia de ser muito mais “cult” do que realmente é.
O filme se esforça tanto para ser uma obra grandiosa com significados ocultos, que acaba distanciando o espectador da discussão que propõe. Ou seja, falha na transmissão da mensagem, tornando-se um filme mais complicado do que deveria.

Claro, há quem entenda as mensagens subliminares do filme logo de cara. Mas é inegável que uma parcela significativa de seus espectadores vai demorar a entender o que a diretora queria passar com seu trabalho. Muitos, inclusive, podem precisar pesquisar uma explicação do filme, o que demonstra uma falta de clareza que prejudica a obra como um todo.
Ainda assim, Jane Schoenbrun entrega um produto final de extrema sensibilidade, trazendo diversas nuances para uma mensagem que conversa diretamente com sua vida pessoal. Algo muito explorado no filme é o sentimento de estar em um corpo errado, que não é seu – o sentimento do ser e do não ser. Faz uma relação com a vivência da população transgênero.
I Saw The TV Glow, portanto, pode até ser pretensioso demais, tentando atingir uma grandiosidade que dificulta o entendimento das mensagens do filme. Porém, ainda entrega uma direção de arte magnífica, com efeitos de tirar o fôlego. Por fim, atuações espetaculares complementam uma mensagem sensível, tocante e honesta.