Yorgos Lanthimos nunca teve medo do bizarro – e em Bugonia, ele aposta novamente no absurdo para criar uma fábula tão excêntrica quanto perturbadora do nosso tempo. Ele transforma o delírio das teorias da conspiração e o fanatismo das fake news em uma “quase” comédia sombria – daquelas que nos fazem rir e, ao mesmo tempo, questionar se deveríamos estar rindo. Aqui, paranoia e o medo do “outro” são os personagens principais.
Na trama, dois conspiracionistas sequestram a CEO de uma grande empresa quando se convencem de que ela é uma alienígena que quer destruir a Terra. Com senso crítico aliado à criatividade, o ridículo vira lei, enquanto a lógica é um referencial em extinção. E é neste cenário que brilham Jesse Plemons e Emma Stone, com atuações excepcionais.
Atuações de outro mundo
Plemons é a personificação do homem comum, que se perdeu no delírio coletivo – sempre no limite do colapso e do imprevisível. Seus traumas tecem o personagem, com suas camadas sendo reveladas aos poucos. No fim, quando realmente entendemos o personagem, somos tão surpreendidos quanto sua coprotagonista.
Já Stone, se provando novamente uma das atrizes mais versáteis da geração, entrega uma performance hipnótica, que oscila entre ironia, charme e inquietação. Juntos, formam um duo que se torna o grande pilar deste longa-metragem. Conseguem manter o público em constante nervosismo e aflição, como se cada diálogo escondesse uma bomba prestes a explodir.

Aidan Delbis também encanta com sua atuação, trazendo um personagem cuja inocência traça sua ruína. O jovem Don, no fim, é o único capaz de gerar uma empatia real com o público que, aos poucos, percebe a realidade da situação. Ele nada mais é do que vítima da própria ingenuidade – e das loucuras do próprio primo.
Bugonia: entre sátiras e conspirações
Apesar de ser um filme longo, Bugonia passa voando. O ritmo é dinâmico, e as situações se desenrolam com uma fluidez que prende o olhar, gerando cada vez mais curiosidade e fascínio. O tom — ora cômico, ora tenso — mantém o espectador num constante equilíbrio entre o riso e o desconforto. Lanthimos transforma o exagero em arte, e o resultado é um filme que provoca tanto quanto diverte e, então, incomoda ainda mais.

A forma como o filme reflete conspirações delirantes e o extremismo político é tão pitoresca quanto é incômoda: tudo parece exagerado, mas ao mesmo tempo, de um jeito assustador, muito real. No fim, Bugonia é um espetáculo de atuações e ideias – uma sátira inteligente e elegante sobre o absurdo de viver num mundo que, a cada dia, parece mais uma conspiração mirabolante.

