Monstros: reflexões que vão além das aparências

Miguel Felipe
Monstros Barry Windsor-Smith

Enquanto Barry Windsor-Smith desenhava muitos super-heróis ao longo de sua vida, ele também criava Monstros, em paralelo, para desconstruir esses personagens e mostrar que a ficção pode ser muito mais real. O autor não teve pressa e levou 35 anos para ter uma versão final da HQ que venceu o Eisner – principal prêmio da indústria norte-americana de quadrinhos –, em três categorias diferentes, como melhor álbum gráfico inédito, melhor roteirista ou artista e também o prêmio de melhor letrista.

Nascida de uma ideia para uma HQ do Hulk, Barry idealizou ‘Monstros’ em 1980 — enquanto trabalhava para a Marvel — e conta a história de um experimento nazista para os militares americanos, onde o projeto era criar um super-soldado. A ideia pode parecer muito próxima à do Capitão América, certo? Em parte, sim, afinal envolve os nazistas, um super-soldado e os militares americanos. Mas nem só do Capitão vive a forma final de Bobby Bailey – protagonista da história –, pois os experimentos pelos quais Wolverine passou permeiam as páginas da HQ.

Mas não se deixe enganar pelo pensamento de uma história repetida. Embora a HQ traga um aspecto que é bastante conhecido e até mesmo um tanto saturado no mundo dos quadrinhos, ‘Monstros’ possui uma narrativa bem original, quebrando as expectativas do leitor ao mostrar que Bobby não é o monstro da história. Em uma jornada que escava o passado, enquanto avança ao mesmo tempo, Windsor vai nos revelando quem são os monstros, e que na verdade existem monstros por trás dos monstros, e como escolhas e atitudes geram consequências – que ao primeiro olhar podem ser categorizadas como “nada de mais”, porém a longo prazo podem ser terrivelmente negativas ou positivas.

Monstros Barry Windsor-Smith

Em uma HQ pesada, em diversos sentidos, Barry faz de ‘Monstros’ muito mais do que uma simples história em quadrinhos e que nada tem a ver sobre super-heróis ou supervilões. Ele traz a filosofia e psicologia da monstruosidade humana para as páginas, misturando ficção científica e drama em pequenas narrativas de vários personagens em volta do protagonista.

O conteúdo tem uma grande carga psicológica e o ritmo da trama é lento, o que pode fazer com que alguns leitores se incomodem. No entanto, acredito que Barry tenha tido a intenção de que a leitura também fosse lenta, nos permitindo refletir e absorver as mensagens, expressões e o sofrimento dos personagens. As últimas páginas parecem concluir o enredo um tanto rapidamente, mas como mencionei, o foco da narrativa está nas jornadas e seus dilemas, não no final em si.

Uma obra que mereceu cada prêmio conquistado e que faz jus ao tempo gasto para sua produção.

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